Enquanto a política vai balançando ao sabor dos ventos, as pessoas que vivem, estudam e trabalham em Braga continuam a ser diariamente prejudicadas pela falta de uma visão estratégica no campo da mobilidade urbana e de medidas efetivas de melhoria da segurança e incentivo ao uso da bicicleta. Se há uns anos Ricardo Rio e o seu executivo prometiam investir na acalmia de trânsito e na transformação de uma rede viária adequada ao uso da bicicleta como modo de transporte, após 7 anos podemos constatar que, afinal, praticamente nada foi feito.
Não se sabe se o que faz mudar o discurso e impede a realização da intervenção necessária é a tentativa incessante de agradar a certas opiniões públicas, cuja perceção por parte dos nossos responsáveis varia conforme as vozes e os setores que em cada momento Ricardo Rio, os seus vereadores e os técnicos do Município decidem escutar ou deixar de escutar. Ou se será uma certa falta de conhecimento técnico ou científico por parte do Município em áreas como o urbanismo, a mobilidade e a segurança rodoviária – ideia que por vezes nos parece ser transmitida pelos avultados montantes que este Município tem gastado em estudos de mobilidade de que não se vê resultados no terreno. Ou, o que seria porventura mais grave, algum lamentável desinteresse em relação ao facto de o nosso espaço urbano não acolher nem proteger de forma justa e equitativa todos os cidadãos, apesar do flagelo anual dos atropelamentos.
Não sabemos. O que sabemos é que em Braga continua a haver uma rede viária focada quase exclusivamente no automóvel, descurando a segurança e outros direitos dos milhares de cidadãos que diariamente pretendem deslocar-se a pé ou de bicicleta. Todos sabemos que faltam passeios adequados e desimpedidos em boa parte da cidade e, claramente, não temos uma rede ciclável em Braga.
Os cidadãos que se deslocam de bicicleta (e note-se que muitos de nós somos também automobilistas, e todos somos peões) continuam a ser relegados em Braga para um plano de menor importância, o que ajuda a perpetuar o uso excessivo de um modo de transporte que acarreta custos enormes (na ordem dos 33 milhões de euros, só em Braga) para a saúde, para o ambiente, para a economia das famílias e para a sociedade.
Continua a ser incompreensivelmente complicado ir de bicicleta desde a Estação ao Centro, e do Centro ao Campus de Gualtar. Continua a ser inseguro circular de bicicleta em praticamente todas as nossas avenidas. Pouco ou nada tem sido feito para tornar seguros os percursos de bicicleta para acesso às escolas básicas e secundárias, residências e outros polos universitários, serviços públicos, áreas comerciais, zonas industriais e empresariais, e espaços verdes ou de prática desportiva, nos cerca de 7 ou 8 km que temos de cidade plana. Os pequenos trechos de ciclovia existentes não chegam para percorrer a cidade e ligar as áreas residenciais às áreas aonde as pessoas diariamente precisam de se deslocar. E não são suficientes para que se possa falar de uma rede ciclável – precisaríamos de cerca de 10 vezes mais quilómetros de ciclovia, e de reais interligações entre estes, para que finalmente a rede fosse real.
Numa altura em que outras cidades – mundiais, europeias e portuguesas – aproveitam o momento de crise pandémica para repensar a mobilidade e a ajustar a uma escala humana, alocando espaço para passeios e transportes públicos, e criando extensas ciclovias onde antes apenas circulavam carros em excesso, porque é que Braga não aproveita também os fundos que têm sido e continuam a ser disponibilizados para essa finalidade?