Respondendo ao comentário de um leitor, sobre ciclovias em Braga…

Um destes dias, num dos artigos da série “Ciclistas Urbanos em Braga”, tivemos um interessante comentário do nosso leitor Miguel Lobo. O seu testemunho, pela pertinência do tema que aborda, merece ser aqui destacado e deveria inclusivamente ser objeto de reflexão por parte de quem decide em matéria de planeamento urbano, ordenamento de trânsito e obras públicas.

Viva,

Parabens por este blog, só agora me apercebi dele e vou estar atento porque tambem vivo em Braga.
Tambem eu sinto falta de uma rede de vias para bicicleta em Braga. Seria quase um sonho se um dia isso viesse a surgir. Braga tem uma ciclovia, é certo, mas, para além de pequena partilha o mesmo espaço que uma estrada em que os automobilista teimam em fazer parecer uma autoestrada. Andei uma vez nela com a minha esposa e filha e não volto mais, é um perigo. Aliás, andar na estrada de bicicleta em Braga para mim foi traumático. Já fui abalroado por uma carrinha e o tipo teve o descaramento de me dizer que eu é que devia ter cuidado e depois ainda vieram os GNR’s de bigode ajudar à festa. Enfim, foi a primeira e certamente uma má experiencia, agora quando quero andar de bicicleta meto tudo no carro e vou para ciclovias seguras.
Mesmo assim sonho com um dia poder circular em segurança em Braga.
Boa sorte com o Blog, faz falta este tipo de atitude para criar um certo movimento e quem sabe um lobbie.
Cumprimentos

Miguel Lobo

Olá, Miguel!
Obrigado pelo testemunho e pelo incentivo. Estamos a tentar contribuir para a sensibilização da população e dos responsáveis pelo urbanismo, para ver se as coisas melhoram um pouco cá em Braga.

Cada dia que qualquer um destes ciclistas – entre os quais me incluo – sai à rua na sua bicicleta (seja para passear, para tomar um copo com os amigos, para ir às compras ou ir para o emprego), está a contribuir ativamente para mudar mentalidades. À medida que mais ciclistas vão circulando nas ruas – e o número está mesmo a aumentar – passará a haver uma adaptação dos comportamentos dos automobilistas, mais não seja, porque passam a contar com a presença de ciclistas na via. Claro que há ainda muitos receios, alguns deles justificados, outros nem tanto, mas com algum esforço de adaptação, é possível e relativamente simples pedalar. A zona da periferia (incluindo essa ciclovia) coloca alguns desafios aos ciclistas, mas em compensação no centro da cidade conseguimos circular com relativa facilidade.

Quanto à nossa única e polémica ciclovia (ver foto abaixo, retirada de um artigo no blog Avenida Central), que supostamente serviria para a prática de desporto e ciclismo de lazer, tem realmente vários defeitos graves. O primeiro deles, na minha opinião, é o facto de se encontrar numa localização periférica, com um percurso que não a torna muito útil a quem deseja utilizar a bicicleta como meio de transporte para o emprego, para a escola ou para a universidade.

Ciclovia em Braga

Além disso, tem também alguns problemas de conceção que a tornam insegura não só para o ciclismo desportivo mas também para o ciclismo de lazer. Por exemplo, além de ser estreita e não permitir a ultrapassagem entre ciclistas, a ciclovia encontra-se agrupada com o passeio, ao longo de praticamente todo o seu traçado, sem qualquer tipo de separação, sendo frequente o seu uso por parte de peões, animais de estimação, carrinhos de bebés… Em alguns pontos do percurso, temos constantemente carros estacionados em cima da ciclovia, interrompendo a passagem dos ciclistas e obrigando-os a seguir ilegalmente por uma das faixas reservadas a veículos motorizados. Mas não é só. Em alguns pontos, há estacionamento automóvel na berma, pelo que os carros precisam de ocupar a ciclovia para entrar e sair do estacionamento (escusado será dizer que qualquer carro que vá a sair em marcha-atrás tem pouca ou nenhuma visibilidade para verificar se na ciclovia vem algum ciclista na sua direção). Isso, a juntar às numerosas rotundas que interrompem a viagem mas não oferecem qualquer proteção aos utentes da ciclovia, faz com que esta continue a ser uma das obras mais polémicas alguma vez realizadas em Braga.

É por estes e outros motivos que há neste momento um movimento de cidadãos de Braga a tentar fazer chegar uma mensagem aos responsáveis da autarquia – de que os ciclistas existem em Braga e que é preciso melhorar as condições de circulação e estacionamento, não só para os ciclistas que já andam nas nossas ruas, mas também para aqueles que gostavam de o poder fazer, mas ainda não se sentem seguros.

Gosto de ser otimista, e acredito que as coisas irão melhorar. O número de ciclistas aumenta de dia para dia, não só em passeios de fim de semana, mas também nas deslocações diárias para o emprego, no centro da cidade e nas zonas periféricas. Basta passar algumas horas na Avenida Central ou na Rua D. Pedro V, para o comprovar. Com o poder de compra a baixar e os custos dos combustíveis a aumentar, cada vez mais pessoas acabarão por tomar a decisão de perder o medo e a vergonha e passarão a usar a bicicleta em vez do carro. Aos poucos, esta nova realidade tornar-se-á cada vez mais difícil de ignorar por quem quer que esteja à frente dos órgãos autárquicos competentes…

6 Comments on “Respondendo ao comentário de um leitor, sobre ciclovias em Braga…”

  1. Realmente só podemos exigir mais se nos unirmos, no sábado passado estive no IX Congresso Ibérico na cidade da Murtosa, o secretário geral das obras e transportes diz que em breve sai uma alteração ao código da estrada onde os ciclistas terão mais protecção, espero que pelo menos ganhemos o direito à prioridade, tal como os veiculos motorizados.
    A FPCUB ( http://www.fpcub.pt )tem trabalhado contra a corrente e está a dar frutos, precisamos é de ser mais. Só o facto de sermos sócios da federação já faz com que possamos ajudar, a quantidade pesa quando se fazem exposições ao governo e quando se pede algo, como é o caso do direito à prioridade.

    ass. Paulo Rodrigues

  2. Apesar dos defeitos apontados, essa é das melhores ciclovias que conheço. Não é bidireccional, existe uma em cada sentido. Não roubaram espaço aos peões mas sim aos condutores que ficaram com faixas mais estreitas, o que torna as velocidades mais reduzidas apesar de ainda assim poderem ser elevadas.

    Sinceramente, sempre que a solução passe por segregação dos ciclistas acho difícil fazer melhor. Talvez a parte das rotundas merecesse outra configuração pois neste momento obrigam o ciclista a dar a volta por fora, expondo-o em tudo o que é entrada/saída da rotunda.

    Ciclovia deveria portanto ser algo de recurso em zonas em que a diferença de velocidade entre velocipedes e automóveis seja desejavelmente elevada. Antes disso há um conjunto de medidas que podem e devem ser aplicadas com maior potêncial de ter sucesso do que ciclovias. (Ex: reduzir quantidade de trafego automovel, reduzir velocidade do mesmo, etc) Sobre este assunto recomendo o seguinte video de Mário Alves:

    http://www.livestream.com/onetalks/video?clipId=flv_f01aae70-9acd-4f2a-9c38-feced7c56e55

  3. Olá Vitor,

    Com esta exposição é que eu não contava, eh,eh! O meu comentário saiu um bocado em tom de desabafo e peço desculpa por isso.

    Voltando ao tema que interessa, e não vou certamente dizer nada de novo, mas relativamente ao mau uso da nossa já por si má ciclovia, como problema cultural que é, só se resolve com mais ciclovias de qualidade e mais ciclistas. O Vitor é otimista e eu também, tenho a certeza que quando houver mais ciclovias nesta cidade e muitos mais ciclista, gradualmente as pessoas e condutores de automóveis irão respeitar mais as vias reservadas a ciclistas. Novamente, não vou dizer nada de novo, mas as sempre referidas capitais do ciclismo do Norte da Europa não criaram redes viárias para ciclista em 24 horas, foi antes um longo processo de décadas e sempre em constante melhoramento.

    Nós o que precisamos é de começar e não parar, e se não ficou bem á primeira, vamos melhorando. O resto, a educação, o respeito, vem por acréscimo. Digo eu!

    Mais uma vez, boa sorte para o blog e para o “movimento”!

    Miguel Lobo

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