O automóvel veio mudar drasticamente a cidade de Braga. Em miúdo vi surgirem grandes vias que fragmentaram a cidade. No meu caso, o meu mundo da altura, São Vicente. Na altura, essa grande via era atravessada a pé, por centenas de pessoas que necessitavam de ir ao centro, vivo e comercial, da cidade.
Ao lado dessa grande via, a Av. António Macedo, havia uma grande eira, no meio de um campo de terra. Esse local era muito frequentado por crianças e jovens, uns com bicicletas, outros com Skates, outros com bolas de futebol, outros com seus brinquedos. Era um espaço livre, onde pequenos grupos de crianças se podiam criar e brincar. Esse local já não existe há muito, foi “modernizado” com a implementação de um ringue para a prática única do futebol, onde os adultos podem agendar seus jogos e as crianças ficam com os tempos que os adultos não usam.
Esta modernização condicionou um movimento espontâneo, de deslocalização das brincadeiras para um outro campo de terra próximo. Um movimento de procura de espaço livre, onde todos pudessem aparecer e brincar com o que tivessem. Mais tarde esse local desapareceu e mais um grande prédio surgiu.
O crescimento da urbanização gerou excesso de carros nas estradas, o que tornou as brincadeiras na rua perigosas, a corridas de bicicletas difíceis, mesmo sendo um bairro habitacional, sem vias de atravessamento. Os peões passaram a ter de usar passagens aéreas para irem ao centro, fazendo com que o pedonal deixasse de ser prazeroso e as vias cicláveis não existem.
Lembrei-me deste local, após a última reunião da Braga Ciclável, onde algumas pessoas destacaram a falta de espaços livres, sem parques infantis criados por adultos. Nos parques infantis as brincadeiras já estão formatadas e o pensamento limitado, as barreiras criadas.
Alguns municípios encontram-se em processo de reestruturação urbana, nomeadamente com foco na criação de espaços, onde todos possam conviver, sem terem de estar fechados num parque infantil, com chão de borracha, tal como é defendido por especialistas em saúde mental infantil, nos países nórdicos. A brincadeira em espaço aberto, livre de barreiras arquitectónicas, permite criar, imaginar e relaxar.
A cidade de Braga tem crescido muito, do ponto de vista populacional e económico, sem dúvida. Contudo, custa aceitar que os nossos governantes não vejam os exemplos de outras cidades europeias, que promovem o pedonal e a utilização da bicicleta, em segurança. Temos que nos insurgir e não aceitar mais atropelamentos. Basta de riscar o alcatrão para se afirmar que a bicicleta já passa aqui, quando não protegemos os seus utilizadores.
Seria fantástico termos uma coligação que nos governasse com a mesma preocupação pela vida humana, como com o necessário crescimento económico da urbe. Lado a lado esta coligação ficaria para a história e os Bracarenses reconheceriam, de certeza.