“As coisas que podemos discutir são aquelas sobre as quais ninguém sabe nada.”

Richard Feynman em criança, de bicicleta

Richard Feynman foi um dos mais brilhantes físicos do século XX, foi laureado com o Prémio Nobel da Física em 1695. Tinha uma personalidade muito especial e as suas aulas eram altamente concorridas, ainda hoje os vídeos dessas aulas têm milhões de visualizações no Youtube. Entre os vários livros que escreveu encontra-se o “Está a brincar Sr. Feynman!” (editado em Portugal pela Gradiva), um livro escrito num estilo bastante descontraído onde Feynman se dedica a contar vários episódios da sua vida e que vale muito a pena ler. Num desses episódios é contada uma conversa entre o autor e uma princesa da Dinamarca aquando da cerimónia de entrega do Prémio Nobel, onde ela lamenta não poder falar com ele sobre física pois não sabia nada sobre o assunto. Ao lamento R.Feynman respondeu com algum humor: “As coisas que podemos discutir são aquelas sobre as quais ninguém sabe nada.”

Veio-me recentemente esta história à cabeça enquanto lia nas redes sociais algumas opiniões inflamadas acerca dos diversos temas quentes relacionados com a mobilidade na cidade de Braga. A discussão é feita normalmente com base em três ou quatro ideias simplistas pré-feitas já há muito postas em causa pela evidência científica. Entre o cardápio de argumentos estão ideias como: “tirar espaço ao carro piora o trânsito”, “tirar lugares de estacionamento destrói o comércio local”, “colocar semáforos piora o trânsito” ou “o trânsito resolve-se fazendo mais estradas”. Em 2019 o The Guardian desmistificou algumas destas e de outras ideias do mesmo tipo, confrontando-as com a evidência científica “Ten common myths about bike lanes – and why they’re wrong”.

Serve isto para dizer que seria bom que as discussões sobre estes temas fossem feitas com base mais em factos e menos com base em achismos. Aos poderes públicos compete decidir políticas públicas em diálogo com os cidadãos, explicá-las e definir objetivos e metas que permitam que essas políticas sejam avaliadas. Aos cidadãos compete participar nesse diálogo e exigir que essas políticas sejam avaliadas. O que não deve acontecer é que este diálogo seja feito de forma desinformada, ao sabor de algoritmos e esperando que toda a gente esteja de acordo.

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