O Campus de Gualtar (CG) da UMinho é um dos principais polos geradores de tráfego na cidade de Braga. Porém, a UMinho nada tem contribuído para uma mobilidade mais sustentável na cidade. A universidade opta pela ausência de ideias e iniciativas neste domínio.
Uma fatia muito significativa do espaço do CG serve para estacionar carros. Na zona circundante, também há carros estacionados por todo o lado. Pelo contrário, não há uma única zona de recreação ao ar livre, jardins, espaços verdes, quer no CG quer fora. É sintomático não se ver ninguém no CG a fazer atividades ao ar livre (e.g., correr, jogar à bola). O CG é uma extensão da cidade; é um campus pensado principalmente para o automóvel. Por essa razão, continua a não ser fácil deslocarmo-nos para lá, em bicicleta, a pé, ou de autocarro. As razões são muitas.
- 1. Há vários autocarros a circular perto do CG. Escrevo “perto,” pois os autocarros não entram no CG. Este facto torna muito menos cómoda a opção pelos autocarros, que têm de parar junto ao McDonald’s (fora do CG). Isso obriga as pessoas a fazerem deslocações relativamente longas até aos edifícios do CG. Por exemplo, o percurso a pé a partir dessa paragem até à Escola de Medicina tem 1.1 km, um desnível bem acentuado e demora, a pé, cerca de 18 minutos. É a mesma distância entre o Parque da Ponte e o posto de Turismo (toda a extensão da Av. da Liberdade). Até os autocarros da AAUM, que ligam os campi de Braga e Guimarães, ficam à porta do CG. Curiosamente, em Guimarães, os autocarros da AAUM entram no Campus de Azurém. Incompreensível!
- 2. O número de utilizadores de bicicleta no CG é ridiculamente baixo. Com uma população residente tão jovem, a UMinho devia promover o modo ciclável. Contudo, nada fez de muito significativo em 30 anos para que tal sucedesse. Não há, no CG, um único percurso ciclável. Há apenas meia-dúzia de parques para bicicletas. A UMinho nunca reclamou junto do município para que existissem percursos cicláveis até o CG. O percurso ciclável do rio Este termina junto à rotunda do Hotel Meliã e o canal ciclável da Rua Nova de Santa Cruz termina a meio da rua. Anedótico!
- 3. Ir a pé para o CG a partir do centro da cidade obriga a atravessar a passagem elevada na Av. Júlio Fragata, para se chegar à Rua Nova de Santa Cruz, aspeto que afasta potenciais peões. Essa rua está um horror, após as inenarráveis obras que lá se fizeram há três anos. Os passeios são estreitos, sem conforto para os peões e estão cheios de carros mal-estacionados. A alternativa é usar a Rodovia, outra via pouco agradável para peões. Outra opção é usar uma pequena porta na rua do Vilar, que, quando chove, está toda enlameada. Tem que se andar em cima de tábuas para não sujar os sapatos. O CG tem diversos “erros” arquiteturais, como por exemplo percursos pedonais “quadrados”, que dificultam a vida ao peão. Em resumo, ir a pé para o CG não é uma experiência agradável. Lamentável!
- 4. Todo este cenário faz com que, para muitos, o automóvel seja obviamente a única opção válida. A entrada em funcionamento do BRT em Braga, que parece que irá atravessar o CG, poderá ser mais uma opção de mobilidade para todos os que se deslocam de e para lá. Isso vai depender da forma como se fará a integração do BRT no CG e a sua articulação com os outros modos de transporte. Temo que os responsáveis da UMinho não saibam o que fazer com o BRT a passar pelo meio do CG, pois não parece existir qualquer plano para a mobilidade na universidade. Estou ligado à UMinho há quase 40 anos, primeiro como estudante e atualmente como professor, e não me recordo de alguma vez ter havido um debate sobre a mobilidade na UMinho. Sintomático!