Uma outra realidade

Recentemente tive a sorte de contactar com uma outra realidade, bem diferente da de Braga, no que se refere a mobilidade ciclável. Viena, capital da Áustria, sétima maior cidade da União Europeia, com 1.700.000 habitantes. Um clima, pensamos nós por impulso, nada propício ao uso da bicicleta: invernos longos, nevões frequentes, dias de frio intenso e uma média anual de 95 dias de chuva. Quanto à percentagem de pessoas a utilizar a bicicleta no dia-a-dia, deixemo-nos surpreender: 15%, segundo a “Quality of Life Survey, Eurobarometer.”

Em 2013, Viena propôs-se a alcançar esta percentagem com a assinatura da Carta de Bruxelas, em que se comprometeu a promover a utilização da bicicleta e a definir metas claras de segurança viária. Na altura, sublinhe-se que há pouco mais de 3 anos, a percentagem de utilizadores era de 6%. Perante uma circulação viária a crescer desenfreadamente, níveis de poluição recorde e o custo elevado dos combustíveis, a cidade optou por aprender com capitais como Berlim, Copenhaga e Amesterdão, que viviam já a cultura da bicicleta.

O governo Austríaco admitiu, na altura, que algumas das medidas em prol do uso da bicicleta seriam polémicas, mas decidiu ainda assim avançar com alterações estruturais como eliminar lugares de estacionamento de carros para dar lugar a ciclovias. Quebradas as barreiras iniciais à utilização da bicicleta, este estilo de vida veio para ficar.

Uma curiosidade sobre este panorama de mudança assentou num projeto piloto chamado “Bike City”. Foram construídos 100 blocos de apartamentos com amplos corredores, elevadores, suportes e estacionamentos para bicicletas em todos os pisos. Com este projeto, conseguiu-se baixar o valor das rendas ao se optar por não construir um estacionamento para carro por apartamento (apenas foram construídos apenas 50% dos lugares) e incentivar a substituição do carro pela bicicleta como meio de transporte.

Quanto ao sistema de bike sharing, em cada canto da cidade podemos usufruir do mesmo, que conta com 1000 bicicletas e 61 estações estrategicamente posicionadas para uso dos moradores e turistas. Por si só, este sistema, quando implementado, aumentou o uso da bicicleta diariamente como meio de transporte em 2%.

Braga, 137 000 habitantes, 0,4% da população utiliza a bicicleta como meio de transporte. Para quando, seguir este, entre vários tão bons exemplos?


(Artigo originalmente publicado na edição de 12/11/2016 do Diário do Minho)

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