Uma ciclovia até ao campo

Há uns anos, Elis Regina cantava: “Eu quero uma casa de campo”. Eu, não menos modesta, quero uma ciclovia que me leve até ao campo.

Esta é a analogia que vos trago hoje. Bem sei que, antes de podermos ter uma casa de campo, a prioridade é termos uma (boa) casa, apenas. A ciclovia que nos serve atualmente tem ainda muito para melhorar, mas vou aproveitar este espaço para imaginar e, quiçá, adivinhar um possível futuro.

De tantos caminhos possíveis, tenho a sorte de ter uma ciclovia que me leva quase até ao meu local de trabalho, tornando a minha viagem diária uma experiência revigorante de pura liberdade. Contudo, ao chegar o fim de semana, a minha bicicleta fica arrumada. Embora eu reconheça que sou uma sortuda por ter essa ciclovia que conecta minha casa ao trabalho, sei que a infraestrutura ciclável na cidade ainda é bastante deficitária. Não há opções que me permitam explorar a periferia da cidade ou dar um passeio até ao rio. Precisamos de ciclovias que nos permitam não apenas ir de casa ao trabalho, mas também explorar e desfrutar do que a cidade e a natureza têm para oferecer.

Apesar de terem sido apenas alguns meses, tive o privilégio de viver na Bélgica e na Alemanha, onde a bicicleta é um meio de transporte amplamente utilizado. Em ambos os países, contava com ciclovias que me acompanhavam no quotidiano e ecovias que me levavam aonde quisesse. Lá, o que me limitava era a fadiga muscular. Aqui, a luta é diferente: é contra a falta de infraestrutura, ou a ausência de um ‘mapa’ que me leve do centro da cidade até ao campo, à montanha ou ao rio.

Quem me conhece sabe que, para mim, ir a pé, de bicicleta ou a correr são as opções que mais utilizo. O meu GPS já se rendeu a essa realidade e, por defeito, coloca-se em modo ‘a pé’. É quase como se o algoritmo dissesse: “Já te conheço, Inês, sei que não vais de carro!” Para ir à minha terra, Póvoa de Varzim, recorro ao carro, mas sonho em conseguir ir ter com os meus pais sempre em plena ciclovia.

A ecovia do Cávado planeia uma ligação de Esposende até Amares. As infraestruturas que estão a ser criadas junto ao rio Cávado são de excelência, mas como servirão os habitantes de Braga? Precisamos de uma rede que conecte não apenas os pontos turísticos, mas também os bairros, as escolas e a periferia. Uma cidade ciclável é uma cidade mais feliz, mais unida e, acima de tudo, mais saudável.

Portanto, deixo aqui o meu apelo: que possamos sonhar juntos com uma Braga mais ciclável, onde a ciclovia que me leva até ao campo não seja apenas um desejo, mas uma realidade. E quem sabe, um dia, eu possa cantar, assim como Elis Regina, que quero uma casa de campo… e uma ciclovia que me leve até lá!

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