Suécia, da mobília à mobilidade

Há umas semanas, tive a oportunidade de visitar a capital da Suécia, Estocolmo. Recomendo muito a visita. Apesar do clima inóspito, a cidade não deixa de ser confortável e agradável de visitar quando percorremos as suas ruas. É impossível não notar a harmonia com que convivem todos os seus elementos: a natureza, as pessoas e todo o tipo de meios de transportes. A mobilidade em Estocolmo foi pensada para servir e ser usada pelas pessoas, numa visão que me fez lembrar a conhecida marca sueca IKEA.

Fundada em 1943 em Älmhult , o IKEA chegou ao nosso país por volta da primeira década deste século. Os seus produtos preenchiam salas acolhedoras e aconchegantes que víamos nos catálogos e ao passar nas suas lojas. A marca mudou a forma como pensamos a decoração das nossas salas de estar. Tornaram-se em espaços para ler, ver televisão e conviver ao invés das nossas antigas salas que eram, na minha opinião, demasiado frias, formais e intimidantes. Não é anormal para muitos portugueses usar a cozinha e não a sala para conviver, a sala era para as visitas. Hoje, usamos mais a sala de estar que outro sítio qualquer.

Este desígnio de espaços mais confortáveis, convidativos e amigos das pessoas é transportado também para a mobilidade. Estocolmo divide o seu espaço de forma inclusiva e equilibrada, dando espaço para todos os meios de transporte. Os passeios são largos o suficiente para duas pessoas irem confortavelmente a conversar lado a lado, as estradas têm vias dedicadas para bicicletas, transportes públicos(autocarros e eléctricos) e para carros. As estradas têm uma largura semelhante às de Braga. O resultado disto é que menos da metade das pessoas em Estocolmo usam o carro (dados da Deloitte City Mobility Index para 2020), quase 10% usam a bicicleta e 32% os transportes públicos. Como comparação, os dados dos censos indicam que em Portugal quase 70% das pessoas usam o carro.

Seria possível trazer esta mobilidade inclusiva para Braga? Acredito que sim. O espaço hoje em dia existe na cidade. Temos tentado mostrar isso mesmo na Braga Ciclável: é possível através de uma melhor distribuição do espaço. Temos de abandonar o funil rodoviário. 6 vias não vão resolver o nosso problema com o trânsito. Precisamos de ter uma visão mais inclusiva, passando a ter vias dedicadas para o transporte público e para a bicicleta. O espaço está lá. Só precisamos de o aproveitar melhor. Da mesma forma que deixamos a decoração nórdica entrar nas nossas coisas, deixemos entrar agora a mobilidade.

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