“Ir de bicicleta para a escola não é para mim. Porque haveria eu de fazer tal coisa se a minha mãe me pode deixar todos os dias à porta da escola no seu carro?” Se calhar é a rebeldia da adolescência, a busca pela liberdade dos pais, ou então, apenas a forma mais eficaz de realizar as deslocações diárias. Qualquer que tenha sido o motivo primário, foi a pedalar que alcancei o sucesso.
Estudei no Conservatório de Braga até ao 9º ano, e prossegui com o estudo da música no secundário, enquanto fazia o curso de Ciências Socioeconómicas, pelo que sempre tive um horário preenchido. Além disso, praticava ténis duas vezes por semana. Depressa percebi que tinha de gerir o meu tempo de uma forma extremamente eficaz para atingir os meus objetivos e que isso passava em grande parte pela forma como me deslocava diariamente.
Tal como acontece com a maior parte das crianças e adolescentes de hoje em dia, também eu desfrutava do que até então acreditava ser um privilégio, de ter os meus pais a deixar e buscar-me à porta da escola.
Todavia, não gostava de chegar atrasado às aulas, era um aluno exemplar, e por isso, ficar parado no trânsito a olhar para as horas a pensar quantos minutos ia chegar atrasado era uma das poucas coisas na vida que, de facto, me tirava a paciência e estressava profundamente. O stress é geralmente causado pelo imprevisível, por o que não podemos prever ou preparar-nos para. É por isso que ficamos nervosos quando não estudamos para um teste. Não obstante, ainda que estejamos preparados para tal, todos concordamos que não é agradável ficar parado no trânsito.
Não tardei muito a perceber que tinha de arranjar uma alternativa para me deslocar. Numa cidade onde os transportes públicos não são solução, surgiu a ideia da bicicleta.
Pouco depois do início do 10º ano, arranjei uma bicicleta elétrica e comecei a pedalar para a escola contra a vontade dos meus pais, que temiam sensatamente os perigos que eu enfrentava.
Sem querer “dar spoiler”, digamos que a minha qualidade de vida melhorou substancialmente.
O que antes demorava em média 20 minutos à hora de ponta a fazer, passou a demorar apenas 7. E a melhor parte é que, ao sair de casa, sabia exatamente a que horas ia chegar à escola. Não havia imprevistos. O stress acabou.
Transformei 30 minutos de stress em 7 minutos de prazer, enquanto praticava exercício, contribuía para a minha saúde física e mental, passeava ao ar livre, poupava o meu tempo e o dos meus pais (e dinheiro!) e ainda não poluía o ambiente. Ganhei independência e autonomia!
Concluí o secundário com sucesso e isso só foi possível graças à bicicleta. Acontece que a forma mais eficiente de nos deslocarmos é também a mais sustentável, saudável e que nos pode proporcionar maior conforto e prazer.
Podem pensar que este artigo é sobre mim. Mas não é. É sobre o potencial que uma bicicleta tem na vida de um jovem estudante, de um conceituado advogado ou de um político de renome.