Pedalar para a Autonomia…

À capacidade de tomar decisões, de agir livremente e de forma racional, sem imposições externas ou limitações do meio que nos envolve, chamamos habitualmente “autonomia”.

Esta capacidade, que aprendemos na infância, fica muitas vezes comprometida em idades mais avançadas, pelos mais variados motivos, entre os quais, a dificuldade de mobilidade no espaço urbano.

A forma como as cidades estão organizadas, determina e condiciona em muito a nossa autonomia, no que concerne à mobilidade, sendo que, serão sempre os grupos etários mais vulneráveis, os mais prejudicados nesta problemática.

Há muitos anos, que a bicicleta constitui uma importante forma de locomoção, que pode ser utilizada de forma universal, por diversas faixas etárias, desde que existam para tal, estruturas seguras. Por toda a Europa, muitos são os bons exemplos da utilização da bicicleta no espaço urbano, tanto por crianças nas suas deslocações até à escola ou espaços de lazer, como por idosos que encontram nos velocípedes, uma importante ferramenta para a manutenção da autonomia, do envelhecimento ativo e da inclusão social.

Criar redes cicláveis bem planeadas e seguras, é também, uma “importante” forma de promover o convívio intergeracional, o sentido comunitário e a humanização das cidades.

Em Braga, a realidade ainda é muito improfícua para quem pretende utilizar a bicicleta como forma de se deslocar na cidade, sendo a segurança o principal fator dissuasor. Urge, portanto, uma visão estrutural no planeamento da mobilidade na nossa cidade, que vise proteger a autonomia dos grupos etários mais vulneráveis, com a construção de uma rede ciclável segura e que cubra uma área muito mais abrangente do território urbano.

A realidade descrita, e a limitação de autonomia que acarreta em muitos cidadãos, obriga ao recurso excessivo do automóvel, sobrecarregando as vias rodoviárias, tal como é diariamente visível em Braga. Mais de 70% das deslocações na cidade são feitas de carro, refletindo uma infraestrutura urbana planeada para favorecer o automóvel em detrimento de modos de transporte mais sustentáveis e inclusivos. Esta dependência do carro não só limita a autonomia de crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida, como também contribui para o aumento do tráfego, da sinistralidade rodoviária e do stress urbano.

A saturação das estradas e o consequente aumento de acidentes, especialmente em zonas centrais, junto a escolas e locais frequentados por grupos vulneráveis, são sintomas de uma cidade que ainda não conseguiu proporcionar alternativas seguras e eficientes de mobilidade ativa, como redes cicláveis e transportes públicos acessíveis. Assim, a falta de autonomia de parte da população acaba por transferir o “peso” logístico e emocional para as famílias e para a sociedade, perpetuando um ciclo de dependência do automóvel.

Que bom seria, ver crianças e idosos, a partilhar o mesmo caminho, rumo a uma sociedade mais justa e integradora de todos…

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Time limit is exhausted. Please reload CAPTCHA.