Pedalar em Braga só aos soluços!

Obras na Ecovia do Rio Este - Ciclovia Encerrada - agosto 2024

Quem por estes dias percorre a ecovia do rio Este depara-se com um aviso de “ciclovia encerrada” e uma pequena placa amarela que afiança existir um percurso ciclável alternativo. Quem for à procura dele, não o encontrará, pois não existem mais indicações. Deve ser um jogo municipal e cabe ao viajante com pedais descobrir a solução para o enigma. Mas não é fácil. Num dos extremos da obra, no caminho mais próximo que se encontra, a sinalização permanente aí instalada impede a circulação de bicicletas, sem que qualquer aviso com autorização temporária se lhe sobreponha. A interrupção deve-se a obras de “regularização e renaturalização” do rio, conceitos de intervenção que me soam incompatíveis à partida – ou se quer tornar regular um curso de água, ou se quer “devolvê-lo” ao estado natural. Além do mais, creio que somente em Portugal se pode impunemente chamar renaturalização a uma obra de revestir com pedra as paredes de betão existentes nas margens de um rio e ainda receber um generoso apoio do Fundo Ambiental.

Voltando à súbita descontinuidade dos percursos, esta é a desconsideração habitual para quem circula de bicicleta no nosso concelho. Temos, afinal, um pequeno somatório de troços cicláveis que estão muito longe de formar uma rede. É a ciclovia que passa a poucas centenas de metros de vários estabelecimentos de ensino e equipamentos relevantes mas não serve nenhum deles, ou a via que morre em locais inúteis, ou a que foi instalada num local afastado, na parte final de uma rodovia onde se circula em excesso de velocidade e há acidentes graves com automóveis a cada passo. Com a agravante de que alguns dos troços foram excessivamente caros, tal como já referimos em artigos anteriores.

E não é sequer somente um problema de lidar com pré-existências complexas na infraestrutura e na morfologia urbana: ainda recentemente as dispendiosas obras de renovação da Av. da Liberdade introduziram duas vias cicláveis que cruzam com a ecovia do rio Este, porém – por inacreditável que pareça – não estão ligadas entre si. E os semáforos para peões e ciclistas obrigam a diversas paragens e esperas para atravessar a mesma rua. Não percebo muito bem quem é que concebe estas soluções – seguramente não anda de bicicleta, nem tem gosto em que mais alguém ande. Fico com a ideia que o executivo municipal acredita que para contentar os bracarenses e visitantes que pedalam basta adicionar, de vez em quando, uns troços ou pinturas avulsos. E estamos numa cidade de dimensão bastante gerível, o que torna ainda mais admirável esta incapacidade de implementar soluções que resolvam as sérias dificuldades de mobilidade dos cidadãos.

Nesta lotaria de troços cicláveis, a sorte grande sai sempre aos que vivem do lado sul da cidade. Com todos os seus defeitos e problemas por solucionar desde que surgiu, a ecovia do rio Este continua a ser o grande eixo ciclável da cidade, permitindo o atravessamento este-oeste pelo lado sul da cidade. Para a parte centro ou norte da cidade, não calhou qualquer via ciclável e quanto ao resto do concelho, em especial nas freguesias mais populosas, ou nas ligações aos concelhos limítrofes, circular de bicicleta está reservado aos corajosos. O sorteio de troços em Braga já é raro e, ainda por cima, está viciado!

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