Dizia-me há dias uma amiga, que começou a utilizar a bicicleta no dia-a-dia, estar totalmente perdida relativamente a implicações que, para quem usa a bicicleta com frequência são aparentemente simples e quase básicas, mas na verdade não o são e são de extrema importância.
Dizia-me então que usar a bicicleta implica tantos apetrechos que quase perde a vontade de pedalar! Capacete, roupa e colete refletor,… Sim, efetivamente há equipamentos indispensáveis a uma utilização segura da bicicleta. Mas tal não se aplica a estes dois em concreto que não são, de todo, obrigatórios. Na verdade, ambos pouca diferença fazem para a segurança de quem os usa. Não deixando de ser critério de quem os escolhe usar ou não, é sabido que em países onde a utilização dos mesmos é obrigatória não se verificam danos menores quando comparados com países onde não é obrigatório.
Dizia-me também que não sabia bem como se posicionar na faixa de rodagem. Para além de sentir que ‘incomoda’ o tráfego, não se sente confortável ao circular à direita. Num cenário perfeito, o ideal seria separar a bicicleta do veículo motorizado. Não sendo possível, o ideal é precisamente posicionar-se no meio da via para nossa salvaguarda, para, citando os artigos 13.º e 90.º do código da estrada, conservar “das bermas ou passeios uma distância suficiente que permita evitar acidentes”… Circular encostado à direita diminui a visibilidade sobre os utilizadores de bicicleta, e diminui a sua própria visão sobre a envolvente, particularmente em cruzamentos, que são a situação mais geradora de acidentes. Circular demasiado à direita também sujeita os ciclistas a um dos acidentes mais comuns em meio urbano, o acidente por abertura de porta dos carros estacionados. “Convida” ainda os condutores de automóvel à ultrapassem do ciclista dentro da mesma via em que ele circula, o que é perigoso para o ciclista e, agora, ilegal. Finalmente, não possibilita ao ciclista reservar uma distância de segurança ao limite da via, que lhe dê margem de manobra para imprevistos ou erros. O atual Código da Estrada permite adotar uma condução segura ao nível do posicionamento na via.
Devia ser seguro usar a bicicleta e deviam existir infraestruturas com qualidade. Não sendo o caso de Braga, compreende-se a necessidade de utilização do capacete ou da roupa refletora. Tudo isto se traduz numa falha tremenda relativamente ao pensarmos a cidade em prol das pessoas. Mas não devia ser tão simples andar de bicicleta como andar a pé?
(Artigo originalmente publicado na edição de 25/11/2017 do Diário do Minho)
Excelente artigo, com uma conclusão muito pertinente e verdadeira