Medo ou mudança?

No action no change

Todos os dias ouvimos um novo relato de um atropelamento, em Braga. É assustador, para alguém como eu, que viaja em Braga tanto de bicicleta, como a pé, a quantidade de notícias sobre um atropelamento em passadeiras, um atropelamento em frente a uma escola, um atropelamento dentro de uma rotunda, um atropelamento numa travessia sem passadeira, um atropelamento aqui, um atropelamento ali.

É ainda mais assustador perceber que, até agora, eu escrevi menos vezes “atropelamento” do que a quantidade de pessoas que foram atropeladas em Braga no último mês.
Em situação alguma se assume que as razões para os atropelamentos são a falta de infraestruturas de qualidade, a falta de civismo, a falta de informação e a sensibilização para o problema.

Há muito pouco tempo, Mário Meireles compilava os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, dando conta que, em média, uma pessoa foi atropelada a cada três dias, no município de Braga, no ano de 2023. Ironicamente, a caminho do final do ano de 2024, são diários os registos de atropelamentos no município.

Sendo este um problema claramente identificado no município de Braga, de que estão à espera as entidades responsáveis para agir? É urgente criar infraestruturas, e não disfarçar um problema com os condicionamentos de velocidade que um futuro BRT trará à cidade ou com a colocação de barreiras em zonas problemáticas. Gerir uma cidade implica planeamento e organização. E, nesta área, ou há um desleixo muito grande por parte do município, ou há uma incompetência gigantesca por parte dos responsáveis por esta organização e criação de infraestruturas.

Hoje, mais do que nunca, a mobilidade é um tema central da nossa sociedade. Os benefícios de uma mobilidade de qualidade são óbvios: basta-nos olhar para países como a Holanda, a Alemanha e a Dinamarca. O tempo de dizer que é assim nestes países só porque são planos já lá vai. Estes países tornaram a mobilidade numa prioridade desde muito cedo na sua história recente. E nós, mais uma vez, como aliás conta a história da Europa, estamos atrasados. Imaginam uma ciclovia que acompanha a rodovia em torno da cidade de Braga? Na Alemanha, há cidades que têm uma ciclovia em torno de toda a cidade. Zonas centrais das cidades em que se pode apenas viajar de transporte público, bicicleta ou a pé? São vários os exemplos na Europa. Existem alguns casos mais recentes de grandes cidades em Espanha e França, que se reorganizaram para mudar o paradigma da mobilidade. Mas, para isso, é necessário haver vontade política.

“Com muito poucas exceções, a responsabilidade está nas partes envolvidas”. É assim que o presidente da câmara de Braga resume o problema dos atropelamentos, em Braga.
As partes envolvidas em cada acidente, não são apenas os envolvidos diretamente no acidente em si. Somos todos nós que falhamos como civilização, que falhamos nas políticas de mobilidade, que falhamos ao nos desresponsabilizarmos, que falhamos por não criarmos infraestruturas que permitem outro tipo de mobilidade, que falhamos por não criarmos ações de sensibilização, que falhamos por não acompanharmos a mudança do paradigma da mobilidade.

Somos nós que escolhemos quem nos governa. Devemos exigir mais e melhor daqueles que estão no poder e que têm as condições para mudar a mobilidade no município de Braga. E o medo de ser atropelado não pode ser o principal fator dissuasor das pessoas que querem andar a pé ou de bicicleta.

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