“Cuidado com o carro!”, diz o pai, que estacionou em cima do passeio.

Quando pensamos na entrada principal de uma escola, automaticamente imaginamos uma zona confusa, cheia de carros, carros esses que estão muitas vezes mal-estacionados, em cima do passeio, em segunda fila, e com os pais a dizer repetidamente “cuidado com os carros!”.

Agora tentemos imaginar um cenário em que a rua principal de uma escola não tem trânsito, onde existe espaço para os pais conviverem e para as crianças brincarem, um espaço seguro para os mais novos se deslocarem de casa para a escola, e vice-versa, um espaço onde se proporciona um ambiente seguro, pouco poluído e onde se promove a autonomia das crianças.

Será uma utopia pensarmos neste segundo cenário para as escolas em Braga?

Não seremos nós, pais, os grandes responsáveis por esta falta de segurança em frente às escolas, escolas essas em que os nossos filhos estão?

Não seremos nós, pais, a dar um péssimo exemplo de cidadania e de respeito pelos outros, ao estacionarmos em segunda fila, em cima dos passeios, na faixa dedicada aos autocarros, ou até mesmo em cima das passadeiras?

Com estes comportamentos, os nossos filhos olham para o nosso exemplo, e certamente, quando forem adultos, vão achar estes comportamentos “normais” e irão repeti-los, dizendo que “são apenas 5 minutos”.

Estaremos nós, pais, dispostos a abdicar do nosso comodismo, em prol de zonas escolares mais seguras e menos poluídas?

Em algumas cidades europeias este cenário já é uma possibilidade. Em Paris já existem 160 “rue scolaire”, que são ruas em frente ou nas imediações de escolas onde a circulação de carros é proibida ou fortemente limitada, normalmente nos horários de entrada e saída dos alunos. Para controlar esses acessos, existem barreiras físicas, sinalização clara (avisos luminosos ou placas específicas com os horários de proibição), câmaras de videovigilância, e controlo por agentes da polícia.

Em Barcelona esta limitação automóvel envolve também melhorias urbanas como bancos, vegetação e sinalização lúdica. Cidades como Bruxelas, Amesterdão e Roma também têm projetos semelhantes.

Em Portugal ainda estamos muito aquém, longe de serem atingidas metas tão ambiciosas. Com alguns projetos desenvolvidos na nossa cidade percebemos que existe vontade em criar mais condições para as nossas crianças, mas falta mais empenho e desejo real que estas coisas aconteçam o quanto antes.

Destaco alguns projetos que existem na cidade de Braga: PEDIBUS, CICLOEXPRESSO, KIDICAL MASS, JUST STREETS.

No PEDIBUS as crianças vão em “comboios” humanos para a escola, guiadas por monitores, em trajetos e paragens previamente definidas, como se fosse um autocarro.

O CICLO EXPRESSO segue a mesma lógica, mas as crianças deslocam-se para a escola de bicicleta.

O KIDICAL MASS é um projeto internacional, mas que todos os anos se realiza em Braga, com um percurso de bicicleta onde se pretende reivindicar mais condições de segurança para as crianças andarem na rua. É já no dia 10 de maio de 2025 que temos esta maravilhosa iniciativa a percorrer a cidade de Braga.

O projeto “JUST STRETS – Justiça na mobilidade para todos”, visa tornar as ruas mais acolhedoras e seguras, especialmente para as crianças. Este projeto-piloto pretende transformar as ruas em espaços públicos mais agradáveis, reduzindo o tráfego automóvel e promovendo a mobilidade ativa.

Todos nós queremos mais segurança para as nossas crianças, para os nossos filhos, todos queremos que eles brinquem na rua, tal como nós brincámos.

Vamos ser nós os agentes da mudança?

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