O copo meio cheio: pedalando por Braga e celebrando as pequenas alegrias

Francini Pires - de bicicleta em Braga

Ao decidir escrever sobre bicicletas e ciclismo, escolhi olhar para o “copo meio cheio”, explorando o lado positivo de pedalar. Não quero reclamar de políticas públicas ou das vezes em que os ciclistas não são vistos, mas celebrar as pequenas alegrias de um trajeto sobre duas rodas.

Lembro-me de uma manhã em que, a caminho do trabalho, fui surpreendida por um aroma inebriante. Olhei ao redor e vi flores de laranjeira espalhando seu perfume. Naquele momento, pensei que, se estivesse de carro, ouviria música com os vidros fechados e passaria tão rápido que perderia aquela experiência. Pedalar me conecta com detalhes que, de outra forma, passariam despercebidos.

A bicicleta oferece sons que vão além do trânsito: o canto dos pássaros em manhãs de primavera e o vento fresco no rosto em dias de verão. Mesmo o frio e a chuva têm algo a oferecer. Embora seja confortável estar num carro aquecido, pedalar em dias chuvosos é mais rápido e sempre encontro estacionamento com facilidade. O desconforto do clima resolve-se com roupas quentes, luvas e impermeáveis.

Há também a liberdade de explorar novos caminhos. A bicicleta permite descobrir ruas tranquilas, observar pessoas e paisagens, e até parar para tirar uma foto de árvores floridas na primavera ou folhas coloridas no outono. Momentos simples, mas impagáveis.

E o tempo? Andar de bicicleta pode parecer mais demorado, mas compensa pela economia de exercício físico adicional, já que pedalar mantém o corpo ativo. Trinta minutos diários de exercício moderado bastam para sair da zona de sedentarismo e prevenir doenças como obesidade, diabetes e problemas cardíacos. Além disso, os benefícios para a saúde mental são notáveis: pedalar libera neurotransmissores como serotonina e ocitocina, proporcionando bem-estar e alívio do stress.

Com a saúde em dia, reduzimos gastos com medicamentos. No plano financeiro, a bicicleta é extremamente económica, sobretudo se for convencional. Não requer combustível ou baterias caras — o combustível somos nós mesmos, e até isso pode se traduzir em refeições mais equilibradas.

No livro O Poder do Hábito, Charles Duhigg descreve o exercício físico como um “hábito mestre”, capaz de desencadear mudanças positivas em vários aspetos da vida. Quem se exercita tende a comer melhor, levantar-se mais cedo e ser mais paciente. Ao pedalar, vivencio isso diariamente.

Pedalar por Braga é mais do que um meio de transporte: é uma forma de celebrar a cidade e as pequenas alegrias do dia a dia. Cada pedalada revela cheiros, sons e sensações que tornam a vida mais rica. Para mim, é um lembrete constante de que o “copo meio cheio” está sempre ao alcance de quem pedala.

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