Bicicletas e Unicórnios

Não! Não é mais um texto onde se fala do quanto é bom sermos naturalistas, eco-eficientes, saudáveis, e tudo o que engloba toda a retórica de um mundo verde. Pois bem, é exatamente isso que vai acontecer, no entanto, de uma forma mais realista, prática e “cool”.

Antes de pregar a minha missa quinzenal, devo me apresentar para podermos enquadrar. Sou a Suzanne, natural dos Países Baixos, mais propriamente Amesterdão. Sim, aquela cidade que funciona basicamente sobre duas rodas, e bem. Resido em Braga há alguns anos, e que cidade bela para se viver. Se soubessem o potencial que este cantinho tem. Deixaríamos o Arco da Porta Nova fechado para tornar o centro histórico num jardim mágico, no entanto, temos muitas arestas por limar.
Por um bom tempo, tentei continuar com os meus hábitos holandeses nas estradas de Braga e, escusado será dizer que é uma batalha diária. De bicicleta então, é como fazer o Dakar ou, mais específico ainda, como andar na estrada da rua D. Pedro V.
Nunca fez muito sentido, para mim só haver uma ciclovia minimamente decente em Lamaçães e de resto é um Avé-Maria.
Houve momentos em que achei que as pessoas realmente estavam a achar graça à ideia de tornar a bicicleta um hábito: com os cestinhos à frente, as bicicletas pasteleiras coloridas, os assentos para as crianças poderem ser transportadas, mas também foi notório que os ciclistas não aumentam mais devido às condições que são oferecidas nas estradas de Braga.
Amesterdão nem sempre foi a cidade funcional das bicicletas que é hoje, até porque não havia ciclovias construídas como as atuais e o uso do carro era sagrado. A verdadeira mudança cívica e político-social começou nos anos 60 com um movimento hippie chamado PROVO. Já na altura havia uma vontade enorme de tornar a sociedade mais consciente a nível ambiental. A ideia começou com um plano chamado “Bicicleta branca” que consistia em que a autarquia disponibilizasse 50.000 bicicletas brancas, totalmente gratuitas, para que as pessoas se pudessem deslocar para onde quisessem e ,depois do uso, as deixassem para trás. Na mesma ideologia das trotinetes, mas Pro Bono.
A intenção era melhorar a mobilidade na cidade levando à poupança de 2 milhões de Florins por ano à cidade – o equivalente a 1 milhão de Euros hoje.
O movimento tinha, já naquela época, a visão de proibir a entrada de carros dentro do centro da cidade, onde passariam a ser permitidos somente táxis (que tinham que ser 100% elétricos – futurista para a época) e só se poderia circular a uma velocidade de 40 Km/h.
É claro que não foi um plano assim tão fácil de executar. Primeiro porque a autarquia não queria providenciar essa quantia de bicicletas gratuitas e, porque para os que comem o bolo no topo da pirâmide, achavam que era só mais um movimento hippie sem noção. PROVO decidiu agir de forma independente e disponibilizou 50 bicicletas brancas espalhadas pela cidade, sem cadeado para o uso de quem o quisesse.
É de sublinhar de que o espírito e consciência social foi o que tomou conta para que o plano se tornasse impactante e, realmente, as massas começaram a trabalhar em conjunto para Amsterdão se tornar o que é agora, em conjunto com o movimento “Stop de Kindermoord” e a crise do petróleo.
Será que há a capacidade de admitir que esta é a realidade incontornável que temos que começar a acionar? Temos hoje, em 2022, o civismo e a mente aberta para um movimento desta dimensão? Para não dizer que os hippies loucos tinham visão.
Haverá a vontade de tornar esta cidade mais limpa, tranquila e até mais bonita ao sacrificar deixar os BMW’s na garagem?
E, para finalizar, nem tudo tem que ser um estatuto social, muito menos para se finalmente ter uma sociedade funcional.

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