Uma bicicleta, um penso e uma cidade

Dador de sangue de bicicleta

O trajecto é sempre o mesmo, a bicicleta é que nem sempre é a mesma, já que tenho várias. Não chega a meia dúzia de km até chegar ao Museu D. Diogo de Sousa, tendo eu de ir devagar para que, à chegada, a pulsação não seja muito elevada e assim tenha de esperar que a mesma baixe para valores normais. Ter de ir mais devagar que o costume acaba por me dar mais tempo para apreciar aqueles pormenores que tantos ignoram com a velocidade. Não faltam pormenores, bons e maus, que nos devem fazer pensar no que queremos da cidade de Braga. Pormenores urbanísticos, ambientais, sociais, económicos, entre muitos outros. Há pormenores que nos colocam um riso na cara e outros que colocam tristeza na cara. Faz parte do viver numa sociedade cada vez mais complexa. Também faz parte propor soluções para resolver os problemas, como por exemplo todos os suportes para prender as bicicletas à entrada do Museu estarem pura e simplesmente soltos do chão.

Um dos pormenores mais interessantes é sobre a visão de quem me vê a passar de bicicleta, e a sua percepção do indivíduo. Mesmo indo de calças de ganga, uns pensam que devo estar a passear pela cidade, outros pensam que não tenho nada a fazer e que por isso estou a andar de bicicleta. Ou então que quem vai ali vai de bicicleta porque não tem carro, sendo, portanto, uma opção de recurso. Não pensam que o carro é que é uma opção de recurso, e não para viagens curtas, só mesmo para trajectos médios e longos. Não pensam também que quem ali vai pode estar simplesmente a viver a sua vida, mas usando a bicicleta para se deslocar. E isto tendo um carro em casa, que só sai quando é realmente necessário, sem comodismos. É menos um carro a contribuir para um trânsito caótico em Braga. Felizmente que são cada vez mais os que, como eu, fazem isto mesmo, fazendo parte da solução e não do problema.

Para alguns quase que parece que é inconcebível ir às compras de bicicleta, no comércio local, ir à Centésima Página de bicicleta e sair com uns livros no alforge, ou ir a uma reunião de trabalho. São apenas alguns exemplos daquilo que se pode fazer com uma bicicleta.

Curiosamente não foi isso que fui fazer. Alguns percebem o que significa aquele penso no braço que veem na fotografia. Mas todos percebem a importância do que está por detrás daquele penso. Se calhar, e desta forma, muitos podem olhar de forma mais respeitosa para quem anda de bicicleta e ter mais cuidado quando passam por quem usa a bicicleta como modo de transporte, seja um ou dois dias por semana ou vários dias por semana ao longo de todo o ano.

Estamos próximos de duas importantes festividades, onde os abusos ao volante costumam ser ainda mais preocupantes, portanto nada como relembrar que o cuidado na condução é fundamental e o saber conviver com todos é fundamental, sejam eles peões, ciclistas, motociclistas, automobilistas, condutores de pesados e afins.

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