Doze anos de imobilidade sem debate

Agora que chega ao fim o terceiro mandato da atual equipa autárquica e que se encerra um capítulo, é tempo de balanço. Durante anos julguei que, quem quer que sucedesse a Mesquita Machado, só tinha margem para fazer uma cidade melhor, tal era o desastre do legado no domínio da mobilidade urbana (transportes, deslocações, segurança e qualidade de vida). Enganei-me. Com todas as possibilidades de mudança nas mãos, Ricardo Rio deixou que o concelho, em contracorrente com a tendência inexorável das cidades europeias, se continuasse a afundar num martírio de automóveis, ruído, poluição, aceleração, impaciência, postura agressiva, atropelamentos fatais e sinistros diários. Sem carro não é fácil sobreviver em Braga. E isso nada mais é do que um sinal claro de que uma cidade média fracassou.

Soma-se a essa falta de arrojo de Ricardo Rio, um desperdício de oportunidades históricas para repensar, exigir e revolucionar a mobilidade local e regional: entre outras, os períodos de confinamento, os fundos do PRR, a alta velocidade ferroviária. A ambição resume-se em converter a mais antiga linha de transportes urbanos da cidade (o eixo Estação-Universidade, a operar há quase 150 anos) numa versão pomposamente batizada de metrobus. O resto das linhas de autocarros manter-se-á a funcionar naquele sistema arcaico, desatualizado e imprevisível que sabemos que não convence, nem serve os bracarenses. Por outro lado, a “rede” prometida de ciclovias, apesar dos trechos acrescentados, é uma miragem e vive ainda à custa dos dois eixos (rio Este e Lamaçães) que o anterior autarca criou (e Mesquita Machado ainda era menos entusiasta das bicicletas).

O executivo de Ricardo Rio viveu 12 anos inebriado pela sua constante propaganda e vaidade mas paralisado na ação. A Braga renovada das notícias e dos comunicados de imprensa constantes não existe e, sem carro, deslocamo-nos pelo concelho com as mesmas limitações e obstáculos de há três décadas. Problemas de simples resolução mantêm-se anos a fio por solucionar, demonstrando uma total falta de atenção do Executivo municipal à realidade das ruas e praças e aos detalhes. Acresce que, o que tem sido feito, proposto ou mantido nunca é precedido de discussão pública, envolvimento dos bracarenses nas decisões ou confronto de alternativas.

E se a Câmara teve um papel apagado na revisão da mobilidade urbana, também não soube incentivar os agentes privados a construírem uma cidade moderna. As novas urbanizações e as constantes alterações dos loteamentos apresentam-se com as mesmas soluções erradas do passado: espaço público entediante, desligado da envolvente, dedicado na sua maioria aos automóveis, espraiado por inúteis canteiros verdes nos locais sobrantes, com mobiliário urbano fraco e mal posicionado, sem incentivo para a autonomização das crianças, nem para as deslocações a pé, de bicicleta e noutros modos suaves. Já nem refiro melhorias que, aos olhos da Câmara, devem parecer ficção científica: corredores verdes, coberturas vegetais, refúgios climáticos, autoprodução de energia, etc.

Tudo isto pode parecer ambicioso mas pergunto: como é que outras cidades médias – e até de grandes dimensões – deram um salto para outro paradigma de mobilidade na mesma dúzia de anos?

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