Uma das desculpas frequentemente utilizada pelos que estão céticos em relação à possibilidade e viabilidade de adotar a bicicleta como modo de transporte tem a ver com o facto de não sermos uma cidade plana ou, pelo menos, não tão plana como outras cidades europeias em que a bicicleta é usada com grande preponderância. Braga até é uma cidade plana: a zona urbana, onde vive a grande maioria da população do concelho, estende-se sobretudo ao longo do vale do Rio Este que é simultaneamente um planalto do Cávado, sendo, por isso, orograficamente uma zona pouco declivosa.
É precisamente nessa transição, de um planalto para o vale do Cávado, onde encontramos alguns problemas de declive, que podem servir de entrave para quem mora nessa zona, que vai desde Dume e Real até Gondizalves, passando por parte de Maximinos. Esse era o meu entrave até ter decidido, há uns meses, comprar uma bicicleta elétrica.
Aproveitando um apoio estatal, através do fundo ambiental que decorreu durante este ano e que promete voltar no próximo, foi possível comprar uma bicicleta elétrica com uma comparticipação de cinquenta por cento até um máximo de quinhentos euros. Com este apoio conseguimos comprar uma bicicleta elétrica quase pelo valor do que nos custaria uma convencional. Se pensarmos na poupança que teremos nos combustíveis (cada vez mais caros), nos parques de estacionamento, no seguro automóvel, no imposto de circulação, na inspeção periódica obrigatória, na revisão e outras manutenções, concluímos que o investimento numa bicicleta é facilmente recuperado no espaço de um ano se decidirmos optar por abdicar de um dos carros da família. A bicicleta elétrica torna-se assim uma alternativa para quem tem de passar diariamente por zonas íngremes ou simplesmente se sente com menor capacidade física, caindo então por terra uma das possíveis desculpas para a transição modal.
Faz 6 meses que comecei a fazer as minhas deslocações diárias de bicicleta, quer esteja sol ou chuva, tendo feito já mais de 1200km sem passeios, ou seja, só deslocações do dia-a-dia. Nos dias de temporal optei por ir de autocarro. Se há dias em que apetecia pegar no carro? Há! Mas penso sempre que serei menos um carro na estrada a encravar o trânsito, menos um carro a poluir, penso na poupança económica ao fim do mês, no bem que faz à saúde pedalar e naquela sensação refrescante e de liberdade no final de um dia de trabalho. O futuro é este! O futuro é agora se nós quisermos, porque, se noutras cidades por essa Europa fora conseguem, nós também conseguimos! O declive mais difícil de vencer talvez esteja mesmo na nossa mente, no nosso comodismo.