Uma cidade entupida

Uma cidade entupida. É isto que as pessoas sentem sobre a cidade de Braga nos dias de hoje.

E não falo dos bueiros, ou sarjetas, por limpar que levam à simples falta de escoamento de águas pluviais, ou à falta de um sistema de drenagens eficaz na cidade.

Numa altura de adaptação às alterações climáticas há já certezas: vai chover menos vezes, mas com mais intensidade. E ou a cidade se prepara ou nesses dias será impossível de circular.

Em dias de chuva, a cidade fica entupida à superfície e no subsolo.

Na rotina do dia a dia para quem tem filhos há duas grandes dores de cabeça: a deslocação para ir levar e ir buscar os miúdos.

De manhã, se há um ligeiro atraso, ou se há um sinistro na estrada, rapidamente ficamos presos no meio das filas dos carros.

Não é diferente se formos de autocarro, afinal estes andam no mesmo sítio que os carros. Passa a ser óbvio que é impossível que estes cumpram horários e, por isso, deixam de ser atrativos para quem tem de cumprir horários. Faltam os corredores BUS, aqueles que receberam zero investimento desde 2013.

Nos últimos tempos têm-se visto várias notícias sobre o trânsito automóvel. A variante de Prado é impossível no início da manhã e ao fim da tarde.

É normal que assim seja: as pessoas que vêm de Vila Verde ou que usam a variante de Prado só conseguem vir para Braga de carro.

Tem-se lido e ouvido algumas reivindicações sobre o prolongamento da Variante do Cávado para ligar o Nova Arcada até às bombas da CEPSA (ali a seguir à Estação da CP). 

As pessoas dizem que isso retiraria muito trânsito de Infias, mas não é verdade, porque do total de deslocações em Braga, há apenas 2% que não querem nada com o concelho.

A estas somam-se as pessoas que ou dormem em Braga e vão para fora, ou dormem fora e vêm trabalhar/estudar para Braga. São 19% das deslocações.

Com isto apenas falamos de intervenções que vão responder à necessidade de 21% das deslocações. 

Há hoje diariamente 400 mil deslocações em Braga, e aqui o carro só transporta, em média, 1,2 pessoas, então temos de investir noutros modos de transporte.

E se conseguíssemos que um terço passasse a vir de transporte público? Um terço. 7% das deslocações. Parece pouco? São 30 mil carros que ocupam o equivalente a 75 campos de futebol.

Há que definir o traçado para ligações ferroviárias intermunicipais que serão reservados nos Planos Diretores Municipais. 

Este traçado tem uma âncora na Estação Multimodal de Ferreiros por onde passa o TGV que ligará ao Aeroporto.

Aqueles que não fizerem a mudança do carro para o transporte público passam a chegar a Braga mais depressa, mas mais depressa chegam à cidade entupida, porque 79% das deslocações são dentro do concelho.

E aqui, na cidade, é preciso investir na infraestrutura para convidar as pessoas a utilizar outros modos de transporte. Melhores passeios, passadeiras seguras, de nível, semaforizadas, uma rede ciclável segregada e transportes públicos em sítio próprio, bem como corredores bus.

As linhas de alta capacidade de transporte público, que aqui passaram a ser conhecidas como BRT, terão que ligar a cidade e as autoestradas que servem a cidade e a região. Mais uma vez, a âncora da Estação Multimodal de Ferreiros é um ponto fundamental. 

O BRT terá evidentemente que circular pela Rodovia, mas também numa outra linha pelo centro histórico, e em linhas perpendiculares a estas como seja a Júlio Fragata.

Ao mesmo tempo terá que ser alimentado por parques periféricos – que são mais que os “interfaces” hoje existentes – e ter uma rede ciclável que permita a circulação de forma segura de bicicletas na rodovia, mas também que permita aumentar a sua capilaridade através da intermodalidade.

Antes de dedicar tempo a algumas mudanças comportamentais, é preciso reorganizar a infraestrutura e criar as condições para essas alterações. 

A mobilidade induz-se.

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