Tinha uma vontade. Fui ao mapa e tracei a minha rota. Peguei na minha bicicleta e fui. Cheguei com a maior simplicidade com que se pode chegar a um lugar. Durante a viagem sonhei… sonhei que Braga poderia também ser um “paraíso ciclável” e que tudo ganharia outro ar. Apercebi-me tão rapidamente o quão atrasados estamos em relação ao resto da Europa. Sair de Braga para viver uns meses em Antuérpia é ser presenteada todos os dias a nível da mobilidade. Antuérpia, que em 2019, foi classificada a 4º cidade mais bike friendly pelo The Copenhagenize Index, e isso sente-se na perfeição para quem por aqui circula e reflete-se, realmente, no dia-a-dia das pessoas, com mais de 700km de ciclovias seguras e confortáveis.
É em cidades como estas que se consegue perceber o sentido que faz as bicicletas num sítio. Revelando que o investimento em infraestruturas é a estratégia mais moderna e inteligente para uma cidade. Naturalmente, já me deparei com ciclovias que terminam de forma abrupta e cruzamentos arriscados, mas é um processo, e nota-se que há um plano claramente traçado e que de ano para ano é melhorado e revisto. A cidade quer continuar com o desenvolvimento de uma rede de ciclismo de primeira classe. O Masterplan 2020 de Antuérpia apresenta um objetivo muito específico que é que pelo menos metade das deslocações seja feita em transportes públicos, a pé ou de bicicleta. O presente plano tem uma visão sobre mobilidade que leva em consideração vários meios de locomoção, habitabilidade e segurança rodoviária.
Não se vê uma cidade invadida por carros, o que salta à vista são famílias inteiras a andarem de bicicleta. Além da maravilha que é observar a fluidez com que as pessoas se movimentam, o que mais me fascina é ver as crianças nas suas bicicletas a irem para a escola/casa, em grupo de amigos ou sozinhas. É a maior liberdade que se pode dar a alguém, é ser autónomo o suficiente para gerir e escolher a maneira como se quer chegar a algum sítio.
Esta é uma das liberdades que podemos e devemos reivindicar, porque uma cidade é de todos e para todos. Hoje em dia temos pavor de deixar as nossas crianças irem de uma sítio a outro (muitas vezes distancias tão curtas), então metemo-las numa “caixa”, tirando-lhes a possibilidade de sentirem o vento, o sol e a chuva. E fazemos isso porque também nos têm tirado o espaço para circular com segurança.