Quando há uma conversa sobre utilizar a bicicleta como meio de transporte por norma há uma série de argumentos que são utilizados por forma a desculpar o facto de não aderir ao seu uso. Ouvem-se coisas como “o tempo é mau, já viste como chove?”, descurando o facto de temos mais de 200 dias de sol num ano em Braga.
Surge também o “ah, mas com o calor suo muito!”, e então tem que se explicar que quando usamos a bicicleta o agasalho tem que ser diferente, não precisamos de levar tanta roupa como quando vamos de carro, até porque estamos a fazer exercício físico. Temos ainda a habitual desculpa dos declives, das “cidades de altos e baixos”, “das colinas”. Só que a maior parte da população de Braga vive e desloca-se na parte plana da cidade de Braga. Não há nada como experimentar.
Com todas as desculpas e todos os argumentos, eu costumo dar o meu exemplo.
Também eu já usei o carro como meio de transporte na cidade, mas fiz a mudança para a bicicleta como sendo o meu meio preferencial de deslocação há sete anos. Poucas são as deslocações que faço de carro. Ainda assim, perante todos os argumentos e todas as explicações, conseguiram-me dizer “isso é agora, espera até teres filhos e tu vais ver como deixas logo a bicicleta e compras um carro para ti”.
Pois bem, fui pai em julho passado e já antes de a Matilde vir ao mundo eu andava a investigar as melhores soluções para poder andar com ela na cidade. Acabei a encomendar uma bicicleta de carga com oito velocidades mecânicas, com uma caixa longa à frente e uns extras:duas cadeirinhas forradas com um tecido fofo a imitar a lã (uma dos zero aos sete e outra dos sete aos 18 meses) e uma tenda para os dia sem que chove.
Depois de chegada a encomenda e montada na Go By Bike, foi a vez de experimentar fazer uma deslocação com a filhota. Instalada no novo veículo ficou atenta a tudo o que a rodeava. Começamos por ir da Ponte de São João até à Zona Pedonal, sempre pela estrada (aproveitando os ciclos dos semáforos para apanhar poucos carros e reduzir riscos). Da segunda vez fui deixar a Matilde na avó. Durante a viagem foi tranquila, a observar tudo e a fazer furor entre quem a via, de lacinho numa bicicleta tão esquisita. “Que fofa!”, “Que espetáculo!”, “Que riqueza” ia-se ouvindo ao longo do percurso. Não gostou foi de sair da bicicleta. Aos pouquinhos tem andado mais na bicicleta, no entanto ainda é necessário adequar a infraestrutura para que nós possamos sobreviver na estrada, e ela possa, num futuro próximo, viver a cidade utilizando a bicicleta.