Sinal dos tempos

Braga é uma cidade onde ainda se vão vendo prédios construídos com uma galeria que dá para nos salvaguardarmos da chuva ou do calor enquanto vamos a caminhar para o trabalho, para as compras ou simplesmente numa bela caminhada. É, mesmo que não tenhamos a consciência disso, uma boa medida urbanística para salvaguardar os peões que usam o espaço urbano para se mover da forma mais confortável possível. E também de aproximar clientes às lojas de uma forma mais sublime. Estando a chover torrencialmente estas galerias são um bom refúgio ou simplesmente uma boa forma andar a salvo da chuva durante parte ou partes do trajecto. Ou no Verão, com o calor a apertar, estas galerias representam espaços com sombra que podemos aproveitar para usar ao ir do lugar X ao lugar Y. Por vezes, e nestas mesmas galerias, são colocados avisos ou mesmo sinais a alertar que é proibido fazer desporto naquelas galerias, como se alguma vez os desportistas fizessem destas galerias o seu local de treino. Por vezes os avisos ou sinais têm o símbolo de uns patins em linha, bicicleta, skate ou simplesmente “É proibido praticar desporto nas galerias”.

Apesar de, apenas em parte, compreender o intuito, acaba por ser curiosa esta postura de proibição de actividade desportiva, já que o que seria expectável seria apenas uma mensagem pedagógica sobre o bom uso destas galerias e um apelo ao civismo.

Foi com algum espanto que há algumas semanas me deparei com a imagem que acompanha este comentário, em Tadim, num prédio com uma galeria frontal que nem sequer é apropriado para a passagem de bicicletas. Apenas para quem eventualmente traga a sua bicicleta de dentro de casa, restando saber se aquele sinal significa que ao sair da porta se tem de levar a bicicleta às costas.

Diria talvez que este sinal é um sinal dos tempos, mas não no bom sentido. Tempos onde quem tem e usa bicicleta é prejudicado pelo preconceito de terceiros, que não concebem que a bicicleta é uma de várias opções de mobilidade. Curiosamente, e na frente e lateral deste mesmo prédio, vi vários veículos estacionados em cima do passeio, sem que houvesse por ali um sinal a proibir este tipo de comportamentos anti-sociais. Isto, claro, mesmo tendo em conta que o Código de Estrada proíbe o estacionamento em cima dos passeios e que não é suposto sequer que esteja ali um sinal a proibir o estacionamento em cima do passeio. Falo disto desta forma porque é uma dicotomia curiosa, onde quem perde é sempre a bicicleta e o peão e quem “ganha” é sempre o carro.

As cidades, vilas e aldeias precisam de ser amigas dos peões e das bicicletas, não dos carros. Já todos vimos que esta inimizade pelos peões e bicicletas e amizade pelos carros nos tornou reféns dos carros com tudo o que de negativo isso trouxe à nossa vida, a começar pela qualidade de vida.

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