Tive a felicidade de visitar Paris em três ocasiões. Em 2010, em 2023 e durante este mês de Março. É uma cidade que dificilmente deixa alguém indiferente, quer pela sua beleza quer pela sua vida cultural e artística. Nesta última visita, surpreendeu-me o aumento exponencial de ciclovias e de ciclistas além de uma notória diminuição do tráfego automóvel. O que mudou em Paris?
Antes de começarem os “lockdowns” de 2020, a presidente da câmara de Paris, Anne Hidalgo, prometeu uma cidade amiga da bicicleta até 2024. Quando começaram os confinamentos, a câmara fez jus à sua promessa. Aproveitando a inexistência de tráfego automóvel, foram criados 650 km de ciclovias, entre as quais se incluem as chamadas ciclovias “popup” de carácter temporário. Tudo isto foi feito de forma a que quando as restrições foram levantadas, muitos parisienses puderam sair à rua com uma ciclovia à sua porta.
Durante a minha última visita, já não encontrei nenhuma dessas ciclovias temporárias. Passados 4 anos, as medidas temporárias tornaram-se permanentes, com o espaço a ser definitivamente conquistado pelos ciclistas. A revolução não se ficou apenas pelo espaço dado às bicicletas. A cidade está a investir no transporte público (com a construção do Grand Paris Express) ao mesmo tempo que está a implementar maiores restrições ao uso do automóvel: os parisienses votaram favoravelmente para aumentar em 3 vezes as taxas de estacionamento dos SUVs.
Este aumento de vias cicláveis levou a que os utilizadores de bicicleta duplicassem desde 2022, sendo que nos anos anteriores já tinham sido de crescimento. Só em 2020, quando apareceram as ciclovias pop up, o aumento foi de 54%. O mais interessante, é que isso beneficiou também quem não usa a bicicleta. As viagens de carros diminuíram 60%, com os acidentes a reduzirem 30%.
Como em todas as transformações urbanas, o caminho faz-se caminhando. Em 2001, Paris tinha 200 km de ciclovias. Hoje tem mais de 1000 km. Não há nenhuma mudança que aconteça que agrade a todos. Apesar do trânsito diminuir todos os anos, não haverá muitos condutores a gostarem da senhora Hidalgo. No entanto, a cidade como um todo ficou a ganhar. Isso caracteriza os grandes políticos. Visão a longo prazo e coragem política para mudar.