Há pouco mais de uma década, numa altura em que se faziam notar diariamente um conjunto de iniciativas da sociedade bracarense – incluindo as que viriam a resultar na constituição da associação Braga Ciclável – assistimos a uma campanha eleitoral centrada na mobilidade urbana, e particularmente em modos alternativos ao automóvel. Falou-se em dar prioridade ao peão, ao ciclista, à utilização de transportes públicos. Falou-se em reduzir a pegada do automóvel no tecido urbano e em oferecer aos cidadãos alternativas viáveis, seguras e convidativas: melhores passeios, zonas 30, ciclovias, melhores transportes públicos, BRT…
Pouco depois, em abril de 2016, Ricardo Rio – então no seu primeiro mandato como presidente da Câmara Municipal de Braga e em quem muitos bracarenses confiaram para dar novo rumo à cidade – demonstrou interesse em investir numa rede ciclável e priorizar os modos ativos de deslocação, mas com um horizonte temporal a estender-se por três mandatos. Esse prazo alargado foi considerado por muitos como pouco ambicioso, na medida em que deixava para mais tarde o que podia e devia ser feito mais cedo. A promessa era que, caso o seu executivo se mantivesse por um período de 12 anos, a cidade passaria a dispor de uma rede ciclável muito mais avançada, com as seguintes metas para Braga até 2025:
- 10% de deslocações em bicicleta;
- 18 000 utilizadores regulares de bicicleta;
- Duplicar o número de passageiros transportados pelos TUB;
- Reduzir em 25% a utilização do automóvel.
- Implementar na cidade uma rede ciclável com 76 km conforme o PDM (mais do dobro do que havia sido prometido pelo anterior executivo), que passaria a abranger mais de 50% da população.
- Em qualquer ponto da cidade, haveria alguma via ciclável a menos de 2 minutos.
2025 parecia longínquo, mas os anos passavam sem que medidas de fundo fossem tomadas, e sem que uma avaliação metódica e rigorosa de indicadores-chave fosse colocada em prática, para posteriormente poder aferir o real impacto daquelas.
Algumas coisas mudaram entretanto – algumas para melhor, outras nem tanto. Contudo, 2025 chegou e ainda estamos muito longe de ter 76 km de ciclovia prometidos. Continuam a faltar estacionamentos para bicicletas, e os poucos que existem estão demasiadas vezes ocupados por trotinetes de aluguer. Continuamos sem ter um sistema de bicicletas partilhadas. Continua a não haver um percurso ciclável a ligar pontos tão importantes como a Estação, o Centro e a Universidade. Não há suficiente interligação entre as poucas vias cicláveis, para que ocorra o desejado efeito de rede. E persistem alguns defeitos de construção que deveriam ter sido evitados e corrigidos, como por exemplo vias demasiado estreitas, erros de sinalização, lancis elevados, arestas afiadas, bancos de jardim e cestos do lixo encostados à própria faixa de rodagem da ciclovia, falta de limpeza e manutenção do piso.
Qual a quota modal que Braga ambiciona para as deslocações em bicicleta? Será que o orçamento municipal tem refletido essa percentagem no valor investido para melhorar as condições para o uso da bicicleta como modo de transporte? Alguns podem lembrar que há ciclovias que custam milhões de euros, mas convém ressaltar que, nesses casos, a maior parte da despesa corresponde a intervenções nas infraestruturas adjacentes, como a repavimentação, reconstrução ou requalificação de vias destinadas a automóveis. Se excluirmos esses custos, qual o real investimento, qual a percentagem do orçamento dedicada à rede ciclável?
Outras cidades europeias conseguiram implantar em muito menos tempo redes cicláveis bem mais extensas. O que nos falta? E quais os planos para os próximos anos? Para quando uma efetiva ligação ciclável das zonas habitacionais às escolas, à universidade, às zonas de serviços, aos centros empresariais e às interfaces de transportes públicos?