A bicicleta é um meio de transporte fantástico: simples de usar, saudável, económico e amigo do ambiente. Permite percorrer em 10 a 20 minutos muitas das nossas viagens diárias na cidade, como ir trabalhar, ir às compras, ir para a escola ou para a universidade. Mas o que dificulta todas essas viagens é a má qualidade da rede viária, que ainda teima em incentivar o uso excessivo do automóvel e a prática de velocidades perigosas nas ruas e avenidas da cidade.
De bicicleta, podemos chegar do Centro ao Campus de Gualtar em cerca de 15 minutos, e da Estação ao Centro em menos do que isso. Podemos ir de casa à escola, de casa à biblioteca, ao mercado, à farmácia, ao teatro, ao centro de saúde, muitas vezes demorando menos tempo do que se fôssemos de carro.
Em Braga, temos o privilégio de contar com uma cidade que comporta uma área substancial que é praticamente plana, e mesmo as zonas que não ficam nessa área plana são facilmente percorridas de bicicleta elétrica, ou então levando nas subidas a bicicleta pela mão ou usando uma mudança mais baixa. Além disso, o nosso clima é ameno e muito favorável. Temos tempo seco na maior parte dos dias do ano, raramente neva, raramente temos vento forte. Nos outros dias, naqueles em que efetivamente chove, os ciclistas de Braga que lêem este artigo certamente apontarão que, mesmo com chuva, basta o uso de um simples conjunto impermeável por cima da nossa roupa normal para tornar exequíveis e confortáveis as viagens quotidianas de bicicleta.
Infelizmente, os bracarenses que pretendam praticar uma mobilidade responsável, reduzindo tanto quanto possível o uso do automóvel e utilizando a bicicleta nos percursos urbanos, deparam-se com dificuldades que não deviam existir. Para além do excesso de carros e da velocidade excessiva dos mesmos dentro e fora da cidade, faltam também diversas medidas para permitir que seja segura e conveniente a sua viagem.
Os estacionamentos para bicicletas, que ultimamente parecem só existir a pretexto das concessões das trotinetes a empresas privadas, são ainda poucos em zonas onde fazem falta, e muitos dos que existem são de tipo errado ou de fraca qualidade de construção.
Além disso, continua a não existir uma rede ciclável, um mapa de vias seguras para quem usa a bicicleta no dia-a-dia e que permita chegar aos locais aonde diariamente as pessoas precisam de se deslocar. As ciclovias são insuficientes e deslocadas de onde fazem mais falta, e continuam a não estarem ligadas entre si. Não há rede ciclável em Braga.
Como se não bastasse, mesmo em obras recentes, por exemplo na ciclovia da Variante da Encosta, é possível encontrar perigosas arestas afiadas e outros problemas que seriam fáceis de evitar.
O presente demonstra que não aprendemos com certos erros do passado, e continuamos a insistir em erros graves, como derrubar árvores ou destruir passeios, roubando-lhes espaço para ciclovia. O lugar da bicicleta é na estrada, e é preciso que a estrada seja segura. A bicicleta deve ser apresentada e promovida como alternativa ao uso do automóvel na cidade, em vez de ser tratada como “uma outra maneira de andar a pé”. Para isso, é importante oferecer condições de segurança para quem usa a bicicleta e ligar todos os pontos da cidade. E deixar de tratar os peões e os ciclistas como cidadãos de segunda, para quem “qualquer coisa serve”. Afinal de contas, todos nós somos peões, e muitos somos tanto automobilistas como ciclistas. Somos cidadãos e exigimos respeito e segurança.