A pista de slalom na Avenida

Há, de novo, obras na Av. da Liberdade. Iniciada em princípios do séc. XX, a abertura da avenida com 30m de largura implicou a destruição de praticamente todos os edifícios das três ruas anteriores. O arranjo do espaço público seguiu um modelo uniforme que se manteve até meados da década de 90. A partir daí sucederam-se três grandes renovações em cerca de 30 anos. A que está em curso é a quarta. Será, todavia, a melhor possível se pensarmos em soluções atuais de cidades inovadoras no campo da mobilidade?

O processo começou mal. Como é (mau) hábito, a Câmara não promoveu qualquer discussão pública ou debate. Já com as obras em curso, inventou um inútil quiosque informativo.

Observando as escassas imagens apresentadas, e começando pelo peão, a alteração positiva é a reposição do atravessamento de nível no cruzamento com a rodovia (é difícil, porém, elogiar tal decisão uma vez que o executivo demorou 10 anos a resolver este grave e evidente problema). Do lado negativo, vemos a inserção da ciclovia, demasiadas vezes, na área dedicada ao peão, criando pontos de conflito. Para quê com tanto espaço? Além disso, é irrelevante se a área para os peões vai aumentar, como ouvi a vereadora comentar. Os peões não caminham nem desfrutam de somatórios de áreas pedonais, mas sim de passeios que garantam, em segurança, as mais diversas funções que os edifícios adjacentes, os arruamentos vizinhos e os transeuntes lhes solicitam. Pelos desenhos apresentados percebe-se logo que não houve coragem de repensar o espaço dedicado aos veículos. E, sem isso, não há milagres.

Em termos de transportes coletivos a renovação é nula. Trata-se de um investimento de 3 milhões de euros incapaz de corrigir erros do passado (entre outros, a eliminação da circulação dos autocarros nos dois sentidos) ou de repensar o uso dos vários túneis (é assustador pensar que este executivo se acha habilitado a implementar um BRT/metrobus…)

Por fim, os ciclistas. É verdade que ganhamos o sentido ascendente, substituindo o inacreditável sistema atual que, para cumprir o código ao subir a avenida, obriga a desmontar várias vezes. Mas o percurso nos dois sentidos é inexplicavelmente labiríntico (sobe passeio, desce, contorna passadeira, desvia, etc), cruza, sem necessidade, demasiadas vezes com o peão e deixa por resolver as vitais ligações ao centro histórico. No final, ganharemos apenas mais uma ciclovia wireless (isto é, sem ligação física a uma rede que permita a circulação em segurança).

Trata-se, a meu ver, de uma remodelação dispendiosa e sem qualquer rasgo de ousadia, ficando muito aquém do que vemos em tantas cidades europeias. Infelizmente para nós bracarenses será uma grande oportunidade perdida.

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