Para quem se aventura a utilizar a bicicleta por entre o trânsito numa cidade, sabe que é muito importante que a nossa mente não vaguei, a bicicleta puxa-nos inevitavelmente para o momento presente, quanto mais não seja devido aos riscos da circulação rodoviária.
Pedalar na estrada, a par com os carros, traz-me uma mistura de sensações. Por um lado, sinto uma alegria imensa por ser menos uma pessoa a contribuir para o “entulhar” de carros na cidade, à espera que o mundo circule, por outro lado, traz-me sensações de medo e insegurança. É um autêntico exercício de atenção que envolve bastantes riscos. Num nível de concentração minuciosa, o meu cérebro entra num estado de funcionamento otimizado, analisando dados, percorrendo cenários, formulando e descartando opções a uma velocidade surpreendente.
Tenho de ter olhos, ouvidos e instintos bem apurados, pois a qualquer momento posso ser surpreendida por uma porta de um automóvel a abrir-se à minha frente, ou um carro a ultrapassar a vinte centímetros do meu cotovelo, uma tampa de esgoto mais saliente, uma curva cega ou um buraco na berma que ao longe parecia mais pequeno. São nestas alturas que o meu estado de atenção pode salvar-me a vida pois são muitas as armadilhas que um ciclista experimenta no seu dia-a-dia enquanto pedala pela cidade.
Com a experiência e alguns sustos aprendi a tomar certas precauções. Aprendi a prever potenciais situações problemáticas, estar sempre alerta, ser assertiva na minha condução e talvez o mais importante, manter-me sempre visível.
Olho e pedalo pela cidade, com todos esses filtros, que procuram me direcionar para estradas com menos perigos. Às vezes surpreendo-me quando vou de carro, tudo demora diferente e perco tantas coisas de ver pelo caminho, porque vou fechada nessa caixa transportadora a seguir linhas e rotas. Quando vou de bicicleta, por estradas com poucos carros, noto que vejo tudo diferente, vejo mais pormenor, como se pusesse uns óculos, sinto-me mais livre para sentir os cheiros mas sempre com receio do próximo carro que se aproxima e que, com certeza, me fará estremecer.
Gostava de andar de bicicleta sem precisar de ser corajosa. Gostava de confiar mais no caminho para conseguir ver ainda mais à minha volta.
Obrigado pela reflexão Sara! Todas as pessoas que se deslocam de bicicleta, quer em desporto quer na simples ida para o trabalho, passam por isto. E também eu gostava de andar de bicicleta sem precisar de ser corajoso, o que só acontece nos percursos nas ciclovias de Coimbra ou nos passeios, onde infrinjo a lei se isso impedir que me matem. Boas pedaladas, nesta forma tão humana de nos deslocarmos! 🙂
Já estava em tempo de colocar o The Dutch Reach no programa de ensino de condução em Portugal.