Há pouco menos de uma década, por ocasião da fundação do então blog Braga Ciclável, publiquei um breve artigo que, apesar da sua simplicidade, faria despertar muitas vozes até então pouco ouvidas. Semente de uma consciência coletiva que aguardava a oportunidade certa para germinar, florir e dar fruto. Mas, infelizmente, muito pouco mudou entretanto, e praticamente nada se constrói nesta cidade a pensar em quem se desloca de bicicleta no dia-a-dia.
Fui reler esse artigo, num momento de tristeza, depois de ter recebido, há dias, a notícia de mais um atropelamento grave na cidade de Braga. Mais um atropelamento! Um de muitos, naquelas estatísticas de todos os anos. Números que de nada valem, se deles nada procede.
Mas todos conhecemos alguém que já foi atropelado nas ruas de Braga, às vezes mesmo ao nosso lado, não é mesmo? Pode ter sido um amigo, um familiar, um vizinho… ou até mesmo alguns de nós. E amanhã pode ser a pessoa que mais estimamos neste mundo. Isto tem de mudar!
“Vamos fazer de Braga uma cidade mais amiga dos peões, das bicicletas e dos ciclistas!” — assim terminava o artigo em questão, e nessa frase sintetizava o lema que viria a presidir ao lançamento, ainda em 2012, da Proposta Para Uma Mobilidade Sustentável, bem como à fundação da associação Braga Ciclável, poucos anos mais tarde, e às muitas manifestações de vários tipos que ao longo dos anos fomos realizando em torno da mobilidade responsável, saudável e sustentável na cidade de Braga.
“Em Braga, temos uma cidade com condições excecionalmente favoráveis à utilização da bicicleta como meio de transporte, mas tem faltado o empenho dos órgãos autárquicos na promoção do ciclismo urbano e na melhoria das condições de circulação para bicicletas”, afirmava eu então, e concluía, “dito de outro modo, temos uma cidade fantástica, mas está praticamente tudo por fazer em matéria de mobilidade sustentável”.
Infelizmente, continuam mais atuais do que nunca estas palavras. Braga continua a não ter uma rede ciclável, nem implantada, nem em projeto algum que esteja em vias de execução. Há somente alguns retalhos de ciclovia em projetos que alguém parece ter destinado a ficarem perpetuamente na gaveta, à espera de um período eleitoral qualquer. Mais nada!
Quem precisa de ir trabalhar de bicicleta, ou de ir para a escola, para a universidade, para as compras, para a estação de comboios… continua, passados todos estes anos, a não ter vias diretas e seguras, como deveria haver e como sabemos que é perfeitamente possível.
Em 2020, já todos sabemos das muitas vantagens da bicicleta, para quem a usa e para o resto da sociedade. Não é por acaso de que a cada ano vemos ainda mais pessoas a utilizar a bicicleta em Braga. E também não é por acaso que nos últimos anos, e em particular neste ano da pandemia, muitas cidades da Europa e de outras partes do mundo têm aproveitado para implementar mais medidas de proteção e incentivo ao uso da bicicleta, de entre as quais sobressaem geralmente as ciclovias como a face mais visível.
Então, e em Braga? Vamos continuar a olhar para o lado, enquanto a nossa cidade continua a crescer atulhada de automóveis por todo o lado, mas despida de espaços seguros para as pessoas, e sem as necessárias vias de circulação adequadas para quem anda a pé ou de bicicleta? Até quando?