Pedalar em Braga, uma década depois

Em 2012, um grupo de ciclistas de Braga, unidos pela consciência de que esta cidade tinha todas as condições para se tornar mais favorável ao uso da bicicleta, e que este era colocado em causa por graves deficiências a nível da infraestrutura, apresentou um desafio às diversas forças políticas. Chamámos-lhe “Proposta para Uma Mobilidade Sustentável”. Esse documento, dirigido ao executivo autárquico da época e às restantes forças políticas, foi subscrito por várias entidades e viria a servir de ponto de partida para reflexões mais aprofundadas nos anos seguintes. Nele sugeríamos intervenções em matéria de promoção da mobilidade sustentável e, mais particularmente, para a melhoria das condições de circulação de bicicletas.

De entre essas sugestões, destacámos logo desde o início duas absolutamente essenciais para o uso da bicicleta no dia-a-dia: a criação de um eixo ciclável que unisse de forma segura, confortável e direta alguns locais importantes da cidade (Estação de Braga, Centro Histórico e Campus de Gualtar), e a instalação de estacionamentos adequados para bicicletas junto aos principais pontos de interesse e serviços (disponibilizámos uma cópia do manual da FPCUB, onde se descrevia em pormenor os detalhes e forma de instalação dos bicicletários do tipo Sheffield).

Desde essa altura, muita coisa mudou. Mudou o executivo municipal. Mudaram alguns interlocutores. Reunimos diversas vezes com responsáveis do município e líderes de vários partidos. Foram colocados alguns estacionamentos. Foram anunciados estudos. Constituímos a Braga Ciclável como associação. Fomos analisando projetos e ideias, e realizando diversas atividades. Tivemos uma pandemia que nos fez repensar muitos aspetos do quotidiano, incluindo a mobilidade. Foram feitas algumas obras na rede viária, foram acolhidas empresas que disponibilizavam trotinetes e algumas bicicletas de uso partilhado (estas últimas parece que desapareceram entretanto).

Sem ignorar alguns progressos que fomos observando ao longo destes anos, o certo é que continuam por alcançar os principais objetivos. Há realmente mais bicicletários, mas continua a haver muitos pontos importantes na cidade sem estacionamento adequado para bicicletas e, com demasiada frequência, os que existem são açambarcados pelas trotinetes de uma dessas empresas privadas.

Em termos de rede viária, também pouco mudou. Apesar do visível aumento no número de ciclistas e de algumas obras que foram sendo feitas, continuamos a não dispor de um percurso ciclável direto e sem interrupções entre a Estação, o Centro e o Campus de Gualtar. Não que esse seja o único percurso necessário, mas é um dos percursos essenciais que continuam a não existir. Continuamos a não poder contar com uma rede ciclável composta de vias devidamente interligadas, a cobrir as principais zonas habitacionais e comerciais, as escolas e outros serviços da cidade. Para a maior parte dos percursos do dia-a-dia, continuamos a precisar de nos sujeitar à selva do excessivo trânsito automóvel.

A visão que articulámos em 2012 era simples, mas transformadora. Procurava fomentar um ambiente urbano onde o ciclismo não fosse apenas uma opção de alguns, mas um modo preferencial de transporte para um número mais alargado de cidadãos. Acreditávamos – e mantemos atualmente essa certeza – que, através da disponibilização de infraestruturas bem projetadas, poderíamos contribuir para reduzir a congestão de tráfego, tornar mais eficiente a utilização do espaço público, melhorar a qualidade do ar, promover a saúde e o bem-estar, e aprofundar o sentido de comunidade dentro da nossa cidade, com vantagens não só para os ciclistas, mas para toda a população.

O que nos falta? Diria que antes de mais um plano, uma rota clara, uma direção. Os mais atentos certamente se lembrarão que até já temos isso mesmo no PDM que, entre outras coisas, prevê uma rede ciclável – que continua a não existir. Falta então colocar em prática aquilo que nos propusemos, aquilo que já todos sabemos que faz falta.

Vamos lá, então, fazer de Braga uma cidade mais amiga dos peões, das bicicletas e dos ciclistas?

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