Há umas semanas, publiquei aqui uma outra foto de Omar Ruiz-Diaz – provavelmente, um dos ciclistas mais famosos do mundo atual. Esteve recentemente em Braga, e tive a feliz oportunidade de conversar com este famoso repórter de viagens em bicicleta.
Omar Ruiz-Diaz já percorreu mais de 150 mil km de bicicleta e, por toda a parte por onde ele passa, ninguém fica indiferente. Mais não fosse, porque a sua bicicleta, equipada com dois reboques articulados, mede mais de 4 metros de comprimento e transporta dezenas e dezenas de quilos de bagagem…
Omar nasceu no Paraguai, onde viveu parte da sua juventude. Na altura, inconformado com as injustiças decorrentes do regime político de Alfredo Stroessner, chegou a trabalhar numa rádio que se opunha ao poder vigente. De tal modo que acabaria por se ver forçado a buscar exílio político na vizinha Argentina. Ali seguiu estudos universitários, tendo estudado jornalismo, mas nem por isso deixaria de manter uma voz ativa contra o regime de Stroessner. Só após o golpe de estado de 1989, que motivou o exílio de Stroessner para o Brasil, é que Omar regressou ao país que o vira nascer, para retomar a sua atividade como jornalista. Mas não ficaria por ali muito tempo…
A sua viagem, que aparentemente não tem um fim à vista, começou em 1991. Inicialmente concebida como uma simples viagem de férias em modalidade ultra-low-cost, aos poucos foi-se tornado, afinal, em todo um modo de vida. Uma peripécia foi puxando outra, e Omar pode hoje ser considerado um verdadeiro nómada dos tempos modernos. Pelo caminho, vai colecionando memórias, amigos, apontamentos no seu caderno e muitas fotos dos locais por onde vai passando e das pessoas que vai conhecendo. Parte desse material é publicado regularmente na Internet, no sítio OmarGlobal.com e na sua página no Facebook.
Omar gosta de viajar devagar e de participar em atividades nas terras por onde vai passando. Em todos esses lugares, tenta promover o uso da bicicleta e mostrar que é realmente possível utilizá-la como meio de transporte. A sua perspetiva, de um ciclista nómada e aventureiro, tem o poder de cativar o interesse das populações, que geralmente mostram interesse em colaborar ou, pelo menos, em tirar uma foto com ele para recordação.
Quanto à cidade de Braga, este ciclista não pôde deixar de notar que as nossas ruas de “empedrado” oferecem um piso extremamente desagradável para os ciclistas, mas salientou que mesmo assim “não tem de haver desculpas para não andar de bicicleta”. Com a dose certa de boa vontade, todos os obstáculos podem ser ultrapassados. As imensas vantagens da bicicleta sobrepõem-se às pequenas agruras que ela possa motivar. “É uma boa forma de conhecer a cidade”, defende: “ir ao teatro, às compras, passar algum tempo de qualidade com os filhos…”
E acrescenta, ainda, que “a bicicleta ajuda o fluxo sanguíneo, ajuda os músculos e até a própria libido”. “De bicicleta”, afirma Omar, “parece que temos tudo, mas de carro parece que nos falta sempre algo”. E por isso encoraja todas as pessoas a usar a bicicleta e a desfrutar da vida neste verão.
Quando recentemente passou por Braga, era já a terceira vez que se econtrava em Portugal. Tinha passado alguns meses no Alentejo, onde trabalhava em casas rurais. E esse é o seu modo de vida: nómada, mas trabalhador e altamente sociável. Por onde passa, tenta sempre encontrar alguma forma de participar no dia-a-dia das comunidades que o acolhem, trabalhando a troco de algum dinheiro, comida ou dormida. Gosta de conviver com as pessoas e de se integrar ativamente, mesmo que temporariamente, nas sociedades locais.
A sua viagem não tem um destino predefinido, pelo que tansmite uma ideia de liberdade e independência – algo que Omar preza como condições essenciais para ter qualidade de vida.
Aos automobilistas, deixa um conselho muito simples: “que respeitem os ciclistas”. E à cidade de Braga, recomenda que “adote a cultura da bicicleta”. Considera necessário que a Câmara Municipal de Braga construa ciclovias e crie melhores condições para o uso da bicicleta: “se os turistas se sentirem seguros na cidade e arredores, a cidade será mais turística e mais dinâmica”. Na sua opinião, “a bicicleta deve servir como um meio de transporte real”.
E lembra que todos podem ajudar, dando o exemplo de um dos países que o acolheram: “no Canadá, as empresas dão vantagens aos trabalhadores que vão de bicicleta, porque isso se reflete numa maior produtividade e numa maior bem-estar”.
Devo dizer que gostei de conhecer o Omar e tive pena de não poder conversar mais com este cidadão do mundo, conhecer mais histórias das suas viagens e das suas peripécias nos inúmeros sítios por onde já passou. Na sua página na Internet e no seu Facebook, há um sem fim de apontamentos de viagem, fotos, vídeos, recortes de imprensa, que nos permitem saciar um pouquinho essa curiosidade e também alimentar a nossa imaginação. Vale a pena dar uma espreitadela.