Olhemos para a Murtosa

Entre 2001 e 2011, verificou-se um aumento da utilização do automóvel nas deslocações da população de 46% para 62%, segundo os dados dos CENSOS. Este acentuado crescimento, num período e 10 anos, foi feito sobretudo à custa da substituição do transporte coletivo cuja utilização, neste período de tempo, diminuiu de 21% para 15%, e dos modos suaves que também diminuíram: a pé, de 25% para 17%; e a bicicleta e motorizada (com dados apresentados em conjunto) de 3,2% para 1,7%. No que diz respeito à bicicleta isoladamente, não há dados que permitam a comparação, mas em 2011 existiam em Portugal cerca de 31 mil utilizadores regulares. Este número corresponde a um peso relativo de 0,5% (INE, 2011) da bicicleta como meio de transporte, um valor muito abaixo dos 7,4% (Eurobarómetro sobre Política de Transportes, 2010) da média europeia.

É interessante perceber como se distribui o peso da bicicleta como meio de transporte regular em diferentes regiões. Enquanto que no vale do Cávado o seu valor é de 0,4% (estamos, portanto, abaixo da média nacional), é na região do baixo Vouga onde mais se utiliza a bicicleta com uma a percentagem de utilizadores regulares de 3,9%. Desta região faz parte o concelho da Murtosa onde a bicicleta detém 17% da repartição modal, mais de duas vezes superior à média europeia!!

Existe certamente um conjunto alargado de fatores que explicam esta disparidade de valores, no entanto, e olhando para a região do baixo Vouga, em especial para a Murtosa, não parece ter havido nenhum desalinhamento cósmico invulgar que impeça que os portugueses utilizem a bicicleta ao nível da média dos restantes povos europeus.

Para tal, é necessária a criação de infraestruturas que promovam a utilização da bicicleta como instrumento ao serviço da mobilidade. Sabemos que a alteração de paradigmas de mobilidade levanta contestação inicial por parte de alguns setores da população. No entanto, necessitamos que os decisores políticos assumam projetos bem estruturados de mobilidade que, no século XXI, são fundamentais para a modernização, valorização e competitividade dos territórios.

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