Noves Fora: nada

Começou-se a fazer a “Prova dos Nove”, e começaram a surgir longos textos, com muita descrição, que para alguns leitores mais distraídos poderia até parecer que se fez muita coisa nestes últimos 9 anos. Quando se é bom na retórica, tem-se a capacidade de empolar o pouco que se fez na cidade.

É sempre bom ter consciência de que a regra da prova dos nove pode ser utilizada para provar que determinada operação está errada, mas não serve para provar que ela está correta! Portanto, vamos aos factos.

Num projeto de 12 anos, com um orçamento anual a superar os cem milhões de euros, a Câmara de Braga terá mais de mil e quatrocentos milhões de euros de orçamento. Vamos ficar com este número: 1.400.000.000€. É muito dinheiro.

Se, à imagem do que foi feito noutras cidades, se investisse 5% ao ano, de forma contínua durante 12 anos, na promoção da mobilidade sustentável, o investimento total seria de 70 milhões de euros, e ao fim desse tempo a cultura da mobilidade sustentável seria criada. Mas investir na mobilidade sustentável não é asfaltar e colocar rails, isso é investir no “trânsito”, na promoção do automóvel.

O discurso da Praça do Município tem sido outro, aquilo que chamam de “greenwashing” tem acontecido para aqueles lados. Outdoors pomposos, apresentações internacionais de uma cidade com uma mobilidade espetacular, muitos projetos de sonho e que deixam qualquer pessoa com esperanças numa cidade melhor, textos brilhantes com toda a teoria. Mas, quando vamos ver o que foi feito, aí é que a porca torce o rabo e a equação começa a dar sinais de estar errada.

Ao longo dos últimos 9 anos, a Câmara Municipal de Braga fez pouquíssimos investimentos na infraestrutura para a Mobilidade Sustentável. Vejamos os números de acordo com o Portal Base:

  • 4,4  milhões de euros em Lamaçães.
  • 2,8 milhões de euros nas “Zonas 30”/”Áreas +” (Torre Europa, Makro, Fontainhas e Montélios).
  •    630 mil euros no Fojo. 
  •    373 mil euros na Rua Nova de Santa Cruz.
  •    180 mil euros nas Linhas vermelhas.
  •    150 mil euros em Balizadores.
  •      44 mil euros na Ecovia do Rio Este.
  •        zero euros em Corredores BUS. 

Isto totaliza cerca de 8,6 milhões de euros (8.616.372,88 € para ser mais preciso).

Do total do orçamento dos 9 anos (2013-2022) apenas 0,82% foi para infraestrutura que supostamente seria para mudanças na mobilidade. Há coisas a dizer sobre as obras executadas, muitas coisas sobre as opções tomadas, as mentiras, a falta de visão e o resultado final.

O investimento na reorganização da infraestrutura para promover mudanças na mobilidade e melhorar as condições para quem anda a pé, de bicicleta e de transporte público não foi uma prioridade, porque as prioridades merecem bem mais que 0,82% do orçamento.

É caso para dizer “Noves fora, nada”.

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