Portugal é um país que adora bicicletas. O ciclismo é uma das modalidades desportivas com mais adeptos e praticantes, deixando a componente desportiva de lado, grande parte da população tem acesso e sabe utilizar uma bicicleta, usando-a para lazer. No entanto, quando chega a hora de olhar para a bicicleta como meio de transporte diário, o seu lugar é frequentemente na garagem.São várias as razões na origem deste aparente paradoxo e passam por motivos educacionais, pela falta de infraestruturas cicláveis e também pela forma como está estruturado o nosso território. É simples perceber, de forma empírica, a grande dispersão da população pelo território. O preço a pagar por esta dispersão territorial é elevado a vários níveis, nomeadamente ao nível da mobilidade, em que a parca cobertura de transportes públicos e as grandes distâncias a percorrer diariamente pelas populações convidam ao uso do transporte individual. Paralelamente, a abertura de grandes superfícies comerciais em zonas periféricas das cidades, para além de contribuir para o abandono dos centros urbanos como locais de vida diária das populações, incentiva a utilização do automóvel.
Reverter este processo não tem soluções milagrosas, sendo no entanto algo que as diversas entidades públicas devem assumir como prioritário. Estimular a utilização de meios de transporte suaves e de transportes públicos, criando condições para uma intermodalidade entre ambos, conduziria a significativos impactos ambientais, de saúde, económicos e na forma como é vivida a Cidade. Cidadãos menos dependentes do automóvel, teriam maior acessibilidade aos centros urbanos e torná-los-iam parte do seu dia-a-dia. Tal traduzir-se-ia não só em impactos positivos no comércio de proximidade, mas também na dinâmica social reforçada pelos sentimentos de comunidade gerados entre os cidadãos que abdicam da solidão do automóvel e passam a partilhar um espaço comum. É um grande desafio, todavia parte do caminho já está feito: adoramos bicicletas.
(Artigo originalmente publicado na edição de 4/7/2015 do Diário do Minho)