Decorreu no final do mês passado (Março) em Malta, uma conferência ministerial organizada pela presidência da União Europeia sobre Prevenção Rodoviária e os números, embora apresentem melhorias em relação a anos anteriores, ainda mostram uma enorme mortalidade rodoviária por toda a Europa. 25 mil pessoas perderam a vida em acidentes rodoviários em 2016 no espaço europeu e 135 mil ficaram gravemente feridos. Em Portugal morreram 54 pessoas por milhão de habitantes e 37% das vítimas perderam a vida nas zonas urbanas – isto é mais de 9mil cidadãos europeus e cerca de 200 portugueses perderam a vida em acidentes rodoviários em 2016 dentro das cidades. Quem mata, nas estradas e nas cidades, são os carros. Habituamo-nos de tal forma à sua utilização que nos esquecemos que pesam uma tonelada e que, mesmo a uma velocidade reduzida, o seu impacto facilmente acaba em fatalidade.
As cidades não são feitas para os carros. As cidades são feitas para as pessoas. E Braga, infelizmente, ainda não parece ter percebido isso. Temos rotundas e vias rápidas e ruas que mais parecem autoestradas a atravessar a nossa cidade e novas promessas eleitorais para prolongamentos de túneis que custam uma fortuna. E não temos soluções seguras para que os bracarenses optem por meios transporte suaves.
No final da conferência, os ministros com responsabilidade no sector dos transportes (Portugal foi representado por Jorge Gomes, secretário de estado da Administração Interna) comprometeram-se a (entre outras coisas) a reduzir a mortalidade em 50% até 2020 e “ter particular atenção à mobilidade em bicicleta ou a pé, promovendo a integração da temática nos planos de mobilidade, políticas e medidas de ação de segurança rodoviária e, sempre que possível, promover a construção de infraestruturas dedicadas”.
Se por um lado temos de esperar que as autoridades locais abracem a criação de estruturas para a mobilidade em bicicleta em Braga (e pressionar para que elas o façam o mais rapidamente possível), também temos, nós cidadãos, de começar a pensar duas vezes antes de tirar a arma de uma tonelada da garagem para passear no meio das pessoas.
(Artigo originalmente publicado na edição de 15/04/2017 do Diário do Minho)