Moral Urbana

Muitas vezes os discursos de quem procura a rotura e a mudança de um paradigma instalado estão agarrados a emoções e a argumentos pouco racionais. É fácil voltar de Amesterdão e querer transformar a nossa cidade em algo similar, o problema reside no facto de estarmos a falar de casos completamente distintos. Braga apresenta percursos com algum declive, não tem infraestruturas interessantes a ligar os principais pontos da cidade para o uso do ciclismo urbano, nem tem tradição ciclável na cidade, se consideramos os últimos 30 anos. É possível depreender também que a maioria das pessoas se desloca de carro para o local de trabalho, considerando este como o melhor meio para a sua deslocação. 

 As emoções de uma experiência de mobilidade alternativa, relativamente mais adequada, provocam um discurso moralista sobre aquilo que seria melhor para todos os habitantes da cidade. A promoção de meios culturalmente alternativos é mostrada muitas vezes como a solução perfeita e absoluta, colocando-se os promotores no lugar dos justiceiros da mobilidade. Tais discursos motivacionais, que enumeram todas as vantagens de usar a bicicleta como solução de mobilidade, são uma constante por parte de quem usa a bicicleta, porém falar sobre o que corre mal pode antecipar muitos problemas aos potenciais ciclistas urbanos. 

Relativamente à minha experiência pessoal posso enumerar tudo o que correu mal: a primeira bicicleta que comprei não se mostrou suficiente para o meu percurso, comprei uma segunda bicicleta para resolver o problema de algumas subidas; as primeiras experiências no meio do trânsito correram muito mal, muitas delas com discussões pouco civilizadas com automobilistas que teimam em desconsiderar a bicicleta enquanto veículo; também a roupa, muitas vezes inadequada, foi um dos problemas – quando se anda 6/7 km de bicicleta seguidos a roupa tem que ser ajustada; utilizar uma mochila com alguma carga tornou-se igualmente problemático do ponto de vista ergonómico, torna-se, por isso, necessário escolher um sistema de carga que se adeque; em quase todas as viagens que fiz até ao momento fui ultrapassado inadequadamente comprometendo a minha segurança. 

Apesar de todas estas questões negativas, que hoje se encontram quase todas resolvidas, o balanço continua a ser positivo: a sustentabilidade económica e a promoção de uma vida menos sedentária, que a utilização da bicicleta me proporciona, determinam a minha escolha por este meio. 

Para concluir, considero que não invertemos o paradigma atual com moralismos e com falsas expectativas. Ser ciclista urbano em Braga ainda acarreta algumas condicionantes e para muitas pessoas ainda é uma solução pouco viável. A mudança vai ser feita quando todos nós formos cidadãos mais informados e sensíveis relativamente a esta temática que provocará ações políticas congruentes.

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