Na rua ou nas redes sociais, uma das críticas sistemáticas em Braga é relativa ao funcionamento caótico da área pedonal. Não é de agora. A área pedonal nasceu sem estratégia e corresponde a um somatório de ruas fechadas a todo o trânsito. E, se é muito aprazível ter uma extensa área para peões, a verdade é que esta está na origem de problemas sérios de acessibilidade para diversos utilizadores. Entre estes incluem-se não só as pessoas mais velhas mas também os mais novos e todos aqueles com mobilidade reduzida de forma permanente ou temporária. Por outro lado as situações de exceção que existem – cargas e descargas, moradores, recolha de resíduos, etc – causam conflitos com os peões que já se habituaram a que seja seu todo o espaço público. A gestão de acesso à área pedonal é pouco inteligente e está ultrapassada. Na verdade, está tão parada no tempo que nem sequer é clara quanto à possibilidade das bicicletas circularem sem restrições na área pedonal.
Braga, que tanto se gaba da enorme área pedonal, podia sido a cidade piloto de experiências no domínio da mobilidade para resolver os conflitos referidos. Não foi até agora, nem parece estar a fazer um esforço nesse sentido. Pode, porém, aprender com a experiência de outras cidades europeias com áreas pedonais e não faltam ideias que podem ser estudadas.
Por exemplo, uma das medidas piloto da Câmara Municipal de San Sebastian no âmbito do projeto europeu Civitas passou pela melhoria do sistema de distribuição de mercadorias. Envolveu diversas entidades – associações de comerciantes e de moradores, representantes das transportadoras, polícia, etc – que conceberam um sistema urbano de entregas last mile com veículos ecológicos. Pretendia-se impedir que as transportadoras de determinado tipo de mercadorias circulassem com os seus veículos pesados pela parte velha da cidade. Criaram-se, assim, pontos de transbordo, passando a partir daí o transporte a ser feito numa das quatro bicicletas elétricas de carga. Cada bicicleta tem capacidade para 180kg e leva as encomendas ao destino.
Voltando a Braga, os apoios comunitários para a mobilidade vão certamente financiar parte da rede ciclável prevista no nosso PDM. Mas será que a abordagem da mobilidade vai continuar a cingir-se à construção de infraestruturas?