Estacionar em Braga

Usar um carro não é nada barato e, nas deslocações urbanas, paradoxalmente, quando criamos novos lugares de estacionamento automóvel, aparecem ainda mais carros, fazendo com que haja sempre uma grande probabilidade de termos de deixar o carro a uma distância que demora 5 ou 10 minutos a pé. Usar a bicicleta como meio de transporte é uma excelente alternativa que, apesar de ainda faltarem infraestruturas básicas, nos permite facilmente poupar tempo e dinheiro, ao mesmo tempo que desfrutamos mais da cidade e melhoramos a nossa forma física.

A quantidade e a proporção de espaço público (e privado) que se encontra atualmente alocado para estacionamento automóvel encontram-se totalmente desalinhadas com os objetivos que vêm sendo traçados para o futuro da cidade. Fala-se em aumentar o número de ciclistas, em melhorar as condições para quem deseje escolher alternativas ao carro, mas continuam a faltar vias seguras, confortáveis e diretas na maioria dos percursos que necessitamos de realizar no dia-a-dia, bem como estacionamentos de qualidade que nos permitam prender ou guardar as bicicletas em segurança, por períodos que em muitos casos podem ser prolongados. É que, se o roubo de carros atormenta muitos automobilistas em Braga, o furto de bicicletas (integral, ou às peças) é uma calamidade escondida. Quem, nesta cidade, não conhece alguém a quem já tenha sido roubada uma, ou duas, ou mesmo três bicicletas?…


Já lá vão uns anos desde que foi entregue às várias forças políticas de Braga a Proposta Para Uma Mobilidade Sustentável, onde alertávamos precisamente para estas questões. Mas continuamos a deparar-nos com uma enorme escassez de estacionamento para bicicletas, sendo que não há ainda nenhum local adequado para estacionamento de média ou longa duração. Continua a existir, isso sim, uma enorme disponibilidade de lugares de estacionamento automóvel, na ordem das várias dezenas de milhares, só na via pública, sem contar com os numerosos estacionamentos privativos e subterrâneos.

Por outro lado, em diversas ruas, o estacionamento automóvel faz-se à custa da fluidez dos transportes públicos ou da qualidade da vivência pedonal, prejudicando moradores, comerciantes e proprietários de imóveis, ao tornar as ruas menos seguras, menos confortáveis e menos atrativas.

Se o objetivo é termos, a curto prazo, 10% das deslocações diárias dentro da cidade a serem feitas de bicicleta, não seria lógico que as infraestruturas disponibilizadas refletissem essa aposta? Se queremos uma quota modal de 10% para os meios de transporte mais económicos e não poluentes, então faz todo o sentido criar, digamos, 10% de lugares de estacionamento para bicicletas. E, claro, 100% de vias seguras, com ZERO atropelamentos e ZERO mortes.


(Artigo originalmente publicado na edição de 1/4/2017 do Diário do Minho)

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