Estacionamento para bicicletas na Loja do Cidadão

Há dias, ao tratar de uns afazeres, desloquei-me à Loja do Cidadão, cá em Braga. Fui de bicicleta, como sempre faço no meu dia a dia. Tal como em ocasiões anteriores, deparei-me com a falta de estacionamentos para bicicletas neste local crucial, e dei por mim a refletir mais uma vez sobre as formas possíveis de os implementar.

A este propósito, começaria por lembrar alguns princípios que me parecem básicos, mas que frequentemente são esquecidos por quem trata da criação e implementação dos estacionamentos.

Os estacionamentos para bicicletas – tal como todas as outras infraestruturas urbanas – têm muito que se lhe diga, e podem ser bem ou mal concebidos, bem ou mal localizados, etc. Por exemplo, é recomendável que os estacionamentos para bicicletas fiquem localizados o mais perto possível da entrada de edifícios importantes como este, de modo a aumentar a sua utilidade e minimizar as oportunidades de roubo ou vandalismo. Além disso, sempre que seja possível incluí-los dentro do ângulo de visão dos circuitos de vigilância de vídeo, ou no campo de visão do porteiro ou da equipa de segurança, essa opção deverá ser também devidamente equacionada.

O tipo de design é também importante, sendo indispensável uma configuração que permita prender simultaneamente ambas as rodas e o quadro da bicicleta. Ou seja, os estacionamentos do tipo “empena rodas” ou “wheel bender” são de evitar, já que não só tendem a danificar as bicicletas, como também facilitam o trabalho aos ladrões de bicicletas. É aconselhável, em vez desses, o modelo em forma de U invertido (modelo inglês Sheffield). Essa é, aliás, a recomendação que vem sendo feita desde há quase duas décadas pela FPCUB, neste documento que deveria ser lido por todos os responsáveis. Tem lá tudo, incluindo os diagramas para construção e fixação das estruturas metálicas, medidas, distâncias recomendadas, etc.

Estacionamento para bicicletas do tipo Sheffield

Um excelente exemplo de como isto pode ser feito de forma prática, económica e eficaz pode ser observado junto ao Mercado Municipal de Matosinhos, onde a Câmara Municipal instalou recentemente 8 lugares de estacionamento para bicicletas, tendo para isso eliminado apenas 1 único lugar de estacionamento automóvel.

Voltando ao caso em análise – o da Loja do Cidadão, diria que há dois locais lógicos onde o estacionamento poderia ser instalado. O que o senso comum certamente apontaria, à partida, seria no exterior do edifício, no parque ou mesmo no átrio junto à porta principal.

Uma outra opção, ainda que talvez um pouco menos óbvia, teria na minha opinião algumas vantagens práticas adicionais. Refiro-me à sua instalação no interior do próprio edifício, no rés-do-chão.

Estacionamento para bicicletas na Loja do Cidadão

Se repararmos nesta foto, o espaço é suficientemente amplo para acolher ao longo do centro uma fila de suportes do tipo Sheffield, espaçada de X em X metros de modo a permitir a livre passagem de pessoas entre as bicicletas estacionadas. Cada um dos suportes poderia acolher uma ou duas bicicletas, sendo que facilmente se poderia implementar deste modo estacionamento para 10 ou mais lugares.

Ao ficarem localizados no interior, e sem interferir na normal utilização do espaço, estes estacionamentos teriam algumas vantagens importantes. Nomeadamente, o desencorajamento dos ladrões (que seriam mais facilmente observados através das vidraças do piso superior, ou por seguranças do edifício, ou ainda pelos logistas desse piso); a proteção da chuva; a comodidade de ter a bicicleta ali no próprio local, sem ter de fazer uma deslocação adicional para a estacionar/desestacionar. Acompanhados da necessária sinalização no interior e no exterior do edifício (a informar da disponibilidade de estacionamento para bicicletas naquele local), seriam um excelente incentivo para os cidadãos deixarem o carro em casa e optarem antes pela bicicleta.

5 Comments on “Estacionamento para bicicletas na Loja do Cidadão”

  1. "Uma outra opção, ainda que talvez um pouco menos óbvia, teria na minha opinião algumas vantagens práticas adicionais. Refiro-me à sua instalação no interior do próprio edifício, no rés-do-chão.
    Se repararmos nesta foto, o espaço é suficientemente amplo para acolher ao longo do centro uma fila de suportes do tipo Sheffield, espaçada de X em X metros de modo a permitir a livre passagem de pessoas entre as bicicletas estacionadas. Cada um dos suportes poderia acolher uma ou duas bicicletas, sendo que facilmente se poderia implementar deste modo estacionamento para 10 ou mais lugares."

    Não concordo nada com essa medida. É má ideia construir infraestruturas à custa do espaço para os peões, mais ainda se estamos a falar dum espaço público como uma loja do cidadão que deve ser o mais inclusivo possível. Não gostaria nada de ver um cidadão invisual a tropeçar em estacionamento para bicicletas.

    O peão em Portugal é tão mal tratado que quando se vê um espaço um pouco maior começa-se logo a ter ideias de como o ocupar com coisas de utilidade duvidosa. Nada mais errado, se é para o peão, é para o peão, ponto final. São precisas outras infraestruturas, criem-se em espaço próprio para o efeito. O estacionamento para bicicletas do Mercado Municipal de Matosinhos é um bom exemplo disso mesmo, não é preciso inventar mais..

  2. Concordo que é uma sugestão muito discutível. Deve haver sempre muita cautela na hora de ocupar o espaço dos peões. No caso em análise, esta não seria obviamente a única forma de resolver o problema de modo elegante. Há várias soluções possíveis, cada uma com as suas vantagens e desvantagens, e cada uma com alguma margem para boa ou má execução.

    O estacionamento no interior da Loja do Cidadão em Braga, cuja discussão decidi trazer a este espaço, seria uma possibilidade, atendendo às características do local e ao número de pessoas que circulam a pé naquele local. A verdade é que o piso inferior tem muito pouco movimento, dado que Loja do Cidadão propriamente dita se encontra no segundo piso. É aí que se juntam as pessoas. O estacionamento ficaria, evidentemente no rés do chão. Das visitas que tenho feito a esta L.Cidadão, acredito que, deixando espaçamento suficiente entre os suportes para bicicletas, poderiam ser asseguradas as necessárias áreas de passagem para peões, sem grande interferência na normal utilização daquele espaço.

    É também muito pertinente a questão da acessibilidade para invisuais. Infelizmente, nem sempre isso é levado em consideração na hora de desenhar acessos e edifícios. Penso que poderia ser utilizada a técnica do relevo ou textura no chão, como é usado em estações de comboios, para sinalizar a presença de obstáculos.

    Mas sim, há outras soluções possíveis que podem reunir as mesmas vantagens. Há países onde existem bicicletários abrigados, à porta dos edifícios ou lugar equivalente, com controlo de um agente de segurança e/ou câmaras de videovigilância.

    O meu principal objetivo com este artigo era sobretudo motivar uma reflexão criativa. Os comentários são muito bem-vindos, mesmo que discordem das propostas que aqui vou apresentando. Sei que não há soluções perfeitas, mas estou convencido de que com alguma imaginação e com a partilha de ideias consegue-se por vezes descobrir ideias simples que resultam bem. 😉

  3. Boa noite!
    O meu nome é Rita e moro há pouco mais de um ano em Braga. Estou à procura de sugestões de estacionamento. Trabalho no Posto de Turismo, mesmo em frente às arcadas. E vou começar a ir de bicicleta.
    Obrigada e cumprimentos,
    Rita Dinis

    1. Parabéns pela decisão, Rita!

      Na verdade, o Posto de Turismo já merecia à sua porta alguns lugares de estacionamento para bicicletas. Passo lá todos os dias, e é muito frequente ver duas ou três bicicletas amarradas a um dos candeeiros. Como normalmente são bicicletas com alforges carregados e com mapas, é muito fácil perceber que se trata de turistas que se encontram a visitar a cidade.

      Enquanto as entidades competentes não instalam estacionamentos para bicicletas, a solução passa por remediar como se pode. Se houver lugar disponível no interior do edifício, essa será possivelmente a melhor opção, já que diminui a probabilidade de roubo. Em alternativa, sugiro que contacte o parque de estacionamento da Avenida Central para verificar se eles dispõem de serviço de estacionamento para bicicletas (de preferência vigiado). Há muitas cidades onde isso acontece – assim de repente, lembro-me de um no Porto, ao pé do Coliseu, em que costumam oferecer esse serviço gratuitamente – e é possível que também o façam cá em Braga.

      Se nenhuma dessas soluções se aplicar, então resta tentar remediar com as soluções mais habituais: deixar a bicicleta cá fora, o mais próximo possivel da porta ou de uma janela, para poder ir vigiando durante o dia, e prendê-la a um candeeiro, um poste ou um gradeamento. Há muitos ciclistas que usam os candeeiros ao pé do Posto de Turismo e também há muitos que costumam usar o gradeamento da rampa de acesso à Arcada/chafariz (junto às escadas que ficam ao cimo da Avenida da Liberdade).

      Finalmente, talvez seja boa ideia propor à direção do Posto de Turismo e/ou à sua tutela a instalação de estacionamentos para bicicletas. É uma necessidade real, para os próprios turistas:

      http://bragaciclavel.blogspot.pt/2012/08/estacionamento-vigiado-para-bicicletas.html
      http://bragaciclavel.blogspot.pt/2012/05/ciclistas-urbanos-em-braga-70-e-71.html
      http://bragaciclavel.blogspot.pt/2012/05/ciclistas-urbanos-em-braga-62-e-63-e.html
      http://bragaciclavel.blogspot.pt/2012/04/ciclistas-urbanos-em-braga-47.html

      Ao fazer alguma recomendação desse tipo, convém anexar este documento da FPCUB sobre os tipos de estacionamentos que devem ser utilizados:

      http://www.fpcub.pt/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=534&Itemid=100001

      É um documento que inclui todas as indicações necessárias à construção e instalação de estacionamentos para bicicletas. Tudo pronto a usar 🙂

      Força aí, e boas pedaladas!

      Um abraço,
      Victor Domingos

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