O título pode remeter para um filme do Indiana Jones ou para o livro de Marcel Proust: “Em busca do tempo perdido”. Na verdade este texto é sobre um projeto de mobilidade para a cidade de Braga que não saiu do papel.
O projeto
O projeto de mobilidade que falo consistia em dois planos encomendados aos arquitectos José Gigante e Tomás Allen. Foi concluído e entregue por ambos em 2017. Nele estão previstas 4 áreas de intervenção para a cidade:
- Avenida da Liberdade;
- Avenida 31 de Janeiro/Avenida Dr. Porfírio Silva e Rua Padre Francisco Almeida;
- Ciclovia da Encosta com extensão da ciclovia até à Universidade do Minho;
- Avenidas que compõem atualmente a Rodovia: Imaculada Conceição, João XXI e João Paulo II.
Nessas áreas estavam planeadas as seguintes intervenções:
- Ciclovias unidirecionais segregadas em cada um dos sentidos;
- Vias dedicadas ao transporte público;
- Manutenção do mesmo espaço de passeios para os peões;
- Fim das hediondas e tenebrosas passagens subterrâneas, substituídas por passadeiras à superfície.
O que trazia de novo para a cidade?
A implementação na plenitude deste projeto permitiria duas coisas muito importantes:
● Ciclovias a ligar pontos estratégicos da cidade (Universidade, centro histórico, estação de comboio, zonas com elevada densidade populacional);
● Sendo segregada e unidirecional, permitiria o uso da bicicleta em segurança.
Convém recordar que é precisamente por falta de segurança que não se usa a bicicleta em Braga. Ficando só pela mobilidade ciclável, este projeto seria suficiente para criar um boom na utilização da bicicleta.
Obviamente, há ainda benefícios para peões e utilizadores de transporte público. Para os peões (a promessa de uma maior) mais segurança com o fim das passagens subterrâneas e com atravessamentos à superfície. Para os utilizadores do autocarro, maior conveniência, com a via dedicada, o autocarro pode ser mais rápido e, ao sê-lo, torna-se mais frequente e pontual.
Era… Mas deixou de ser
Depois de questionada pela Braga Ciclável, a câmara respondeu por carta a informar que suspendeu, informalmente, o projeto.
Caíram as ciclovias unidirecionais e caíram as passagens de peões à superfície. O BRT não caiu, mas vem sendo anunciado há tanto tempo que ainda corre o risco de se tornar o “novo aeroporto de Lisboa” de Braga.
Sobrou a ciclovia da encosta. Mas se considerarmos que os 3,5 km de ciclovia já existiam e que foi apenas remodelada, no fim ficamos com mais 900 metros extra de ciclovia.
Não foram apresentados os motivos para a suspensão, apenas foi dito que numa “reunião de amigos” se suspendeu uma decisão de um órgão municipal. Democrático…
Só é vencido quem desiste de lutar
O projeto foi suspenso, mas a Braga Ciclável continua à procura dele. Não literalmente à procura, porque já temos propostas pensadas e elaboradas: Zero atropelamentos de peões e ciclistas (hoje há um atropelamento a cada 3 dias na cidade), ciclovias nas principais avenidas, numa primeira fase, e incentivos à compra e utilização da bicicleta.
Continuamos e continuaremos sempre a propor ideias concretas ao Município de Braga e aos Bracarenses para que este projeto, ou outro que vá no mesmo sentido, seja implementado.
Não desistimos de ter em Braga uma mobilidade para todos: bicicleta, peões, transporte público e carro.
Não desistimos de ter uma cidade mais amiga das pessoas que andam a pé, de bicicleta e de transporte público.
Correção 16 de Maio de 2021: Por lapso, o texto original referia apenas o arquitecto José Gigante como autor de todo o projecto. O arquitecto José Gigante apenas elaborou o projecto para as avenindas da rodovia enquanto o arquitecto Tomás Allen elaborou o projecto para as restantes 3 áreas de intervenção.