Seria ótimo conseguirmo-nos deslocar pelas cidades sem trânsito, sem stresses, a tempo e horas e estacionar perto do nosso destino, certo? Era o que eu pretendia fazer com o meu automóvel durante anos, ter liberdade de ir onde queria, quando queria. Porém, as cidades modernas como Braga cresceram imenso e já não têm tanto espaço assim, já não cabe mais infraestrutura rodoviária e o automóvel tornou-se o símbolo da frustração, da raiva ao volante, das filas e dos atrasos.
Por tudo isso comecei, há uns anos, a deslocar-me pela cidade de bicicleta e senti-me livre outra vez, como de carro nunca consegui: conseguia ver as ruas e as pessoas da cidade, conseguia parar em todo lado para visitar o que queria e chegava ao meu destino a tempo e horas e sem stress! Comecei a deixar o meu automóvel parado por mais tempo, e não tinha saudades de o utilizar.
Nesse período nasceu o meu filho e essa bicicleta ganhou uma cadeirinha para o transportar. No entanto as necessidades aumentaram e tornou-se complicado levar tudo o que eu queria, as mochilas, as compras, entre outros: uma bicicleta não pode ser capaz de tanto, certo?
Foi aí que descobri algo de revolucionário: bicicletas de carga construídas de raiz para serem maiores e mais robustas, com capacidade para transportar pelas cidades tudo o que possamos precisar. Conseguem levar cargas grandes sem esforço do condutor (mesmo pessoas de pequena estatura) onde esse peso vai baixo e estável e têm assistência elétrica para ajudar a pedalar. Há bicicletas de carga feitas para tudo o que possa precisar: distribuir encomendas de porta em porta de forma eficiente e rápida, levar as compras do supermercado para todo o mês, até há bicicletas feitas de propósito para transportar cães de porte grande! Há bicicletas onde a carga vai atrás, com uma traseira alongada para o efeito (long tail) ou onde a frente da bicicleta é aumentada com uma caixa grande, as bakfiets para os holandeses.
Mas a bicicleta de carga brilha é a transportar crianças e mochilas pelas cidades: com ela as crianças não fazem birras porque os pais não vão enraivecidos com o trânsito e os atrasos, numa bicicleta as crianças conseguem ver o caminho (principalmente nas bakfiets!), criam um mapa da cidade que os rodeia, conseguem cumprimentar um amigo que vai no passeio e conversam com os pais porque, numa bicicleta, podemos conversar, ao invés do carro onde a criança apenas vê o negro interior do carro. Já sem as crianças estas bicicletas mantém-se ágeis para navegar pelas cidades congestionadas e chegar ao trabalho ainda mais cedo que os seus colegas. Levar os seus filhos às várias atividades do final do dia torna-se simples: pode fugir ao trânsito e estacionar sem problemas pela cidade!
Por tudo isto tenho a minha bicicleta de carga, uma bakfiets holandesa, onde o meu filho e o resto da carga vão à frente. Tem uma caixa onde cabem duas crianças confortavelmente (pode levar até quatro!) com proteção para o vento e para a chuva, para que todos os dias sejam dia de ir de bicicleta. Longas e pesadas, com um descanso estável e degraus para que as crianças subam sozinhas, estas bicicletas transformam-se em ágeis e leves de pedalar e manobrar, não se negando a nenhuma subida! Não serão bicicletas baratas, claro, mas os seus custos de utilização são mínimos face ao automóvel que substituem. Cabe o meu filho, um amigo, as compras da semana e, porque não, cabe também o meu cão que cedo percebeu que as viagens cheiram melhor de bicicleta!
Não haverão cidades modernas sem bicicletas de carga, sem que nos possamos deslocar de uma forma eficiente, rápida e barata, parando onde necessário. Podemos conversar com as nossas crianças e cumprimentar os nossos amigos quando os vemos. E perceber que, afinal, os automóveis é que são barulhentos: as nossas cidades não precisam de o ser!