A forte dependência energética que a Europa tem do exterior tem vindo a ser um tema cada vez mais presente no nosso dia a dia. Aos complexos problemas que daí resultam para a vida dos europeus, como o aumento generalizado de preços, vêm-se somar os desafios impostos pela emergência climática. Em sociedades altamente dependentes de fontes energéticas as soluções passam, por um lado, por uma cada vez maior aposta em fontes de energia que não resultem na emissão de gases de efeito de estufa e, por outro, num aumento da eficiência energética das nossas comunidades.
Olhando para este último ponto, a questão dos transportes é determinante. O consumo energético do setor dos transportes corresponde a cerca de um terço do consumo total de energia na Europa. Ao longo das últimas décadas, o baixo preço dos combustíveis associado à crescente capacidade de acesso à aquisição de automóvel por uma parte importante da população, possibilitou a construção de habitações cada vez mais distantes dos centros urbanos onde a mobilidade dos seus habitantes ficava cada vez mais dependente do carro.
Este fenómeno que aconteceu nos Estados Unidos da América após a década de 1950, chegou a Portugal durante a década de 80 e podemos encontra-lo em grande parte das nossas cidades, nomeadamente em Braga. Fora da zona urbana, observamos facilmente grandes extensões de território ocupado por moradias unifamiliares servidos por ruas frequentemente sem passeios e pouco amigas dos peões. Os seus habitantes necessitam do automóvel para ir às compras, levar os filhos à escola e ir trabalhar. O transporte público não é alternativa face à dificuldade em criar uma rede eficaz e sustentável num território tão vasto e com uma densidade populacional baixa. A isto juntam-se custos bastante significativos na construção de estradas para tentar escoar todo o trânsito automóvel por aí criado.
Resumindo, este tipo de organização urbana leva-nos, enquanto comunidade, por um lado a gastar mais dinheiro em combustíveis e em infraestruturas para o automóvel e, por outro, a impactar de forma mais profunda o território, ocupando mais espaço para albergar um determinado número de habitantes do que aquele que seria necessário num modelo urbano mais compacto.
Numa altura em que os preços da energia sobem significativamente e em que as alterações climáticas são cada vez mais uma realidade, é premente definir estratégias que permitam atenuar a dependência que os habitantes das periferias têm do automóvel. Todavia este é um desafio complexo. O que será porventura mais simples é, para o futuro, e especificamente em Braga, numa altura em que se revê o Plano Diretor Municipal, não repetir os erros do passado e pensar a expansão urbana numa lógica mais compacta e muito menos dependente do automóvel. Aliás, só assim poderemos ser mais independentes energeticamente e almejar atingir a redução das emissões de gases de efeito de estufa em 55% como nos propomos.