CycleAI – usar a inteligência artificial para melhorar a nossa mobilidade

CycleAI é o nome de um novo projeto português que pretende usar tecnologias de inteligência artificial para ajudar a identificar problemas e assim propor melhores soluções para as políticas de mobilidade urbana sustentável. Um médico e um cientista de dados portugueses, ambos utilizadores diários da bicicleta, acreditam que as nossas cidades podem tornar-se mais amigas de quem anda a pé ou de bicicleta, e que a inteligência artificial pode ajudar. Este projeto inovador arrancou em outubro e precisa agora da participação dos utilizadores de bicicleta, para ajudar a reunir algumas informações essenciais para tornar o sistema informático mais inteligente.

O médico Miguel Sampaio Peliteiro, que foi violentamente atropelado numa ciclovia há poucos meses, e Luís Rita, cientista de dados e doutorando no Imperial College, são os responsáveis por este projeto, que vai reunindo em Portugal e no estrangeiro novos parceiros, apoios e prémios (como por exemplo o 1º European Cyclists’ Federation Hackathon e o BET/AWS University Challenge). O objetivo é contribuir para a transição urbanística das cidades focadas no automóvel para a mobilidade ativa, com mais deslocações a serem feitas a pé ou de bicicleta.

Como motivos para empreender este projeto ambicioso, os seus fundadores apontam o facto de que “as cidades a nível mundial estão cada vez mais focadas em voltar os seus esforços apontando a um futuro verde, sustentável e seguro”, mas que que apesar disso “continua a haver milhares de pessoas atropeladas nas estradas, excesso de emissão de gases com efeito de estufa e uma utilização pouco eficiente do espaço urbano”. Tudo isso acarreta enormes custos humanos, sociais e económicos que urge resolver pela via da prevenção.

“A perceção do risco impede as pessoas de pedalar”, afirmam. “Em Portugal tendemos a assobiar para o lado sob a desculpa de condições climatéricas adversas, quando o problema são a insegurança rodoviária, o pobre e subjetivo planeamento urbano, a gritante falta de infraestruturas e a poluição atmosférica nas principais artérias das cidades. Nós queremos mudar isto de forma objetiva, analítica”.

Apelo à participação de todos os ciclistas

Desde outubro, e contando já também com a participação de Codrin Bostan, o projeto CycleAI lançou o seu site em www.cycleai.net, que para além de dar a conhecer a iniciativa, servirá para realizar uma série de processos de crowdsourcing.

O primeiro já se encontra disponível e pede aos utilizadores da bicicleta que assinalem num mapa os locais mais propensos à ocorrência de acidentes ou que considerem uma afronta à sua própria segurança, como por exemplo cruzamentos mal desenhados, rotas mal sinalizadas, zonas com infraestruturas subótimas de circulação ou estado impróprio das vias.

Planos para o futuro

Os planos do CycleAI incluem o desenvolvimento de um modelo de machine learning que permitirá automatizar os processos de identificação de locais perigosos na rede viária e a sua classificação a partir de fotografias, obtendo finalmente um mapa que considere o risco assumido à circulação de diferentes zonas. Uma funcionalidade também prevista é a possibilidade de os utilizadores fotografarem um local que pretendam analisar e fazerem upload na página do CycleAI, que apresentará em instantes uma pontuação de segurança para essa área fotografada.

Depois de terem vencido em novembro deste ano uma competição europeia promovida pela CE, EIT e ECF sobre o tema “Building the cycling city of the future”, a equipa prepara-se para em junho apresentar o projeto na conferência internacional Velo-City 2021, que desta vez decorrerá em Lisboa.

CycleAI roadmap

Com a informação resultante das primeiras fases do projeto, os responsáveis preconizam que o próximo passo consistirá em atuar diretamente nos fatores de risco e promover a mudança. O projeto, lembram, é “interessante tanto pelo seu potencial como pela complexidade do que se desenvolverá”. Para tal, contam com o envolvimento não só dos ciclistas, mas também de municípios, consultores, geógrafos, engenheiros, arquitetos e cientistas de dados.

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