A Semana Europeia da Mobilidade (European Mobility Week) decorre todos os anos, de 16 a 22 de Setembro. Desde 2002, tem procurado mudar o paradigma da mobilidade e do transporte em contexto urbano, contribuindo para uma melhoria da saúde e da qualidade de vida dos cidadãos. Constitui-se como uma oportunidade perfeita para a inclusão de alternativas de mobilidade mais económicas e mais ecológicas, para a introdução de mudanças comportamentais e, sobretudo, para a ação no sentido de uma evolução ativa para sistemas de transportes sustentáveis. Pretende também que os cidadãos experimentem no terreno soluções concretas. É uma oportunidade para as diferentes partes interessadas confluírem num mesmo sentido e criarem soluções inovadoras que levem à redução efetiva do uso do automóvel e, consequentemente, à redução de emissões poluentes. Os requisitos impostos a uma qualquer cidade que queira participar na Semana da Europeia da Mobilidade passam pela apresentação das ações e medidas permanentes a adotar e ainda pela adesão ao Dia Europeu Sem Carros.
Braga participa há já 3 anos consecutivos na Semana Europeia da Mobilidade, mas infelizmente este ano não ofereceu um programa que causasse verdadeiro impacto nos cidadãos e os sensibilizasse para a necessidade de mudança. Faltaram medidas permanentes de melhoria de eficiência, conveniência e conforto do transporte público, bem como medidas de prioridade deste transporte sobre o particular. Faltaram também medidas que aumentassem a segurança dos que utilizam a bicicleta e dos que a pretendem adotar como meio de transporte diário.
Além disso, como seria de esperar, a opção de fechar uma rua pouco movimentada como a Rua D. Gonçalo Pereira não levou a população a refletir sobre as questões da mobilidade, e muito menos a alterar os seus comportamentos. Se Paris consegue fechar ao trânsito uma artéria estruturante como os Campos Elísios, porque é que Braga continua a apostar em ruas insignificantes?
Braga, através do PDM e da Visão Política para a Mobilidade (defendida pelo Presidente da Câmara em Vila Nova de Gaia a 8 de Abril de 2016), tem a ambição de mudar de paradigma até 2025: reduzir em 25% o número de automóveis a circular, aumentar para 18 000 os utilizadores de bicicleta na cidade e duplicar o número de passageiros transportados pelos TUB.
Não se percebe, assim, qual a estratégia global do Município quando, logo no dia seguinte ao Dia Europeu sem Carros, se promove um Salão Automóvel. A não ser que os objetivos definidos no PDM e na visão do Presidente da Câmara não correspondam a uma estratégia ampla e consistente de mobilidade.
É, portanto, importante que se organizem eventos informativos e se implementem medidas permanentes associados à mobilidade ciclável e ao transporte público ao longo de todo o ano. Se o PDM prevê a criação de 76 quilómetros de vias cicláveis, muitas destas alterações podem ser introduzidas já implementando medidas de acalmia de tráfego (gincanas, rotundas, passadeiras elevadas, redução de faixas, semáforos, etc) e tornando a zona pedonal numa zona de coexistência. Importa simultaneamente criar vias cicláveis (mesmo que nalguns casos se limitem a pinturas e balizadores) e instalar mais bicicletários. Só criando primeiro as condições mínimas de segurança motivaremos mais pessoas a utilizar a bicicleta. Não faz qualquer sentido que se aguarde que existam 18 000 utilizadores para depois agir. Aliás, para cumprir esta meta em 2025 é necessário instalar 22 bicicletários e criar 162 metros de vias cicláveis por semana! Só com pequenos incrementos frequentes conseguiremos atingir os objetivos a longo prazo.
Além disso, Portugal é o terceiro maior produtor de bicicletas da Europa, um impacto na economia que vai além da produção e exportação. O uso da bicicleta representa também um ganho, para a cidade, de 0,15€ por quilómetro percorrido (ao passo que o carro constitui um custo de 0,16€).
Tendo em conta este impacto positivo, a Braga Ciclável desafia a Câmara Municipal e a InvestBraga enquanto entidades locais promotoras de feiras a organizar uma Feira Internacional de Bicicletas em Braga. Este evento deverá contar com parceiros como a European Cyclist Federation, a FPCUB – Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, a MUBi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, a AIMinho, a ABIMOTA, a Órbita, a Decathlon, a SportZone, a BikeZone, a GoByBike e todos os produtores, fabricantes e vendedores de bicicletas da Europa, do País e de Braga.
A mobilidade – e em particular a mobilidade ciclável – não é uma moda. A bicicleta é usada diariamente como meio de transporte em toda a Europa por uma elevada percentagem da população. É importante que Braga tome medidas para conquistar o mesmo lugar!
A Braga Ciclável defende uma cidade mais amiga das pessoas que optam por andar a pé e de bicicleta e disponibiliza-se para participar na urgente mudança de paradigma!