Deparei-me recentemente com um termo inglês que me despertou a curiosidade: ‘Desired Paths’. A tradução que, na minha opinião, melhor se ajusta a este termo é a de ‘Caminhos Desejados’. É possível identificar um caminho desejado sempre que nos deparamos com uma rota ou traçado não planeado que é favorecido pelos cidadãos em detrimento do traçado previsto pela infraestrutura presente.
Já todos presenciamos exemplos bastante evidentes deste fenómeno na sua forma mais comum: zonas relvadas de onde surgem traçados sem relva que advém deste ser um caminho por onde, dia após dia, várias pessoas passam. A razão para isto acontecer é simples – é o caminho mais rápido ou o mais eficiente para chegar ao destino.
Apesar destes caminhos desejados poderem passar uma impressão de anarquia e falta de lei, desenganem-se os leitores se pensam que estes não tem utilidade. Estes caminhos não planeados são um dos exemplos mais puros de democracia na mobilidade e deveriam ser olhados com atenção por aqueles que desenham as nossas cidades.
Um caso famoso que ilustra a sua utilidade vem-nos do outro lado do oceano onde, numa universidade americana que procurava expandir o seu campus, os arquitectos não conseguiam chegar a um consenso quanto ao traçado que deviam seguir para desenhar os passeios. Consequentemente, o presidente desta universidade engenhou uma solução simples: plantaram relva na zona pedonal. Ao fim de um ano, construíram os passeios seguindo os traçados onde a relva não conseguia vingar por ser pisada dia após dia pelos estudantes que, inconscientemente, escolhiam as trajetórias mais eficientes para chegar aos seus destinos.
Para desenhar as nossas cidades podemos, em parte, usar a mesma tática. Os caminhos marcados na relva, a gravilha remexida, os peões que, dia após dia, passam a mesma rua numa zona sem passadeira ou as bicicletas que circulam em cima do passeio são tudo sintomas de que a infraestrutura é insuficiente.
No entanto, tenho a sensação que isto não é tido em conta com o peso que deveria e, em alguns casos, procura-se fazer o contrário. Considerem-se os exemplos das figuras neste artigo, onde, no jardim do Centro Coordenador de Transportes de Braga, um traçado na relva é bloqueado para quem procura chegar mais rapidamente ao seu autocarro (figura da esquerda). Também (na figura da direita) se pode verificar a interrupção da ecopista na Avenida 31 de Janeiro onde, em poucos minutos, contam-se as dezenas de pessoas que atravessam a mesma numa zona sem passadeira.
É imperativo que quem planeia as nossas cidades olhe para estes exemplos como mais do que mera casualidade e lhes dê a devida importância. Ao aceitar estas rotas naturais estamos a aceitar que sejam os cidadãos a desenhar as cidades onde habitam e se deslocam, tornando-as mais confortáveis. Ao reconhecer e incorporar estes padrões nas infraestruturas oficiais estamos a fomentar uma relação mais harmoniosa entre conveniência e design.