Quando se constrói o que quer que seja sabemos que há um ciclo de vida. Ao longo desse ciclo de vida é preciso fazer manutenções preventivas e corretivas, que mantenham as coisas em funcionamento. Mas antes do fim do ciclo de vida faz-se uma vistoria. Às vezes passa pela substituição total, outras vezes não.
A quantidade e a dimensão dos buracos da cidade não se deve às condições meteorológicas que têm afetado a nossa cidade, mas sim à falta de manutenção que a cidade tem vivido nos últimos 10 anos.
Se falarmos do paralelo da rotunda de Infias, não se consegue perceber como é que em 10 anos não se fez uma manutenção para rodar o cubo e colocar a face com atrito para cima, permitindo assim que os veículos pesados subam aquela rotunda. Se falarmos do alcatrão da Av. Antero de Quental, não se percebe como se está há 6 anos a alertar para o estado de elevada degradação da mesma e se assobia para o lado. Passar lá hoje de carro é pedir para estragar pneus e jantes. De bicicleta, mota ou trotinete é queda pela certa. Mas não é só esta Rua! O mesmo se passa em diversas ruas da nossa cidade. Quase todas, aliás. Em 2018 anunciou-se que se iam intervencionar todas as ruas, através de um acordo quadro de milhões. Por um erro básico administrativo, o acordo foi invalidado pelo Tribunal de Contas e 5 anos depois voltam as capas de Jornal a dizer “Prometo que agora é que vai ser! Este é um ano de obras, e nem é ano de eleições!”…
Depois temos ainda buracos que são “sinalizados” de uma forma inenarrável! Há umas semanas, na Avenida 31 de Janeiro ou na Avenida Frei Bartolomeu dos Mártires, antes do buraco colocam-se três mecos e um sinal de perigo em cima do buraco, e lava-se as mãos. Pior a emenda que o soneto, porque da forma como colocaram esta sinalização, apenas aumentava o risco de sinistros e de perigo para quem ali circula.
Não há ninguém na Câmara que leia os manuais de sinalização temporária? Ou não se dá ouvidos às pessoas que conhecem esses manuais? Não se retira responsabilidades?
A Câmara de Braga sabe que e quantos sinais verticais existem? Não. Mas tem a obrigação de saber, porque para terem validade eles têm que ser publicados em edital e têm que ter numeração interna. E tem um plano de manutenção para a sinalização vertical? Não. Quando um sinal está gasto ou cai, é preciso entrar alguma reclamação para alguém ir substituir. Se ninguém reclamar… não se faz nada.
Manutenção dos passeios também falta. Passeios com buracos, com depressões fruto dos carros estacionados em cima deles, com rasgos em terra por causa de intervenções pontuais de obras, passeios novos com pedras soltas, com água por baixo das lages é o que mais existe em Braga. Não há um plano de manutenção e de acessibilidade pedonal.
E também ao nível ciclável as coisas precisam de manutenção. Na ciclovia de Lamaçães a AGERE não limpa as areias que ali existem, deixando acumular uma enormidade de resíduos na ciclovia que leva a quedas. Na, ainda não inaugurada, Rua Nova de Santa Cruz há parafusos à vista na ciclocoisa e no contrafluxo da D. Pedro V é buracos por todo o lado.
Mas calma, o “BRT” vai resolver tudo. Isto se os nomeados políticos não obstaculizarem a sua construção, como o fizeram com a ciclovia na Rodovia, atirando Braga para um marasmo.
Esta é a face visível. Nos dias de chuva apercebemo-nos que também a rede de águas pluviais não tem manutenção. As sarjetas e bueiros acumulam água, não escoam a água, e a sua limpeza é efetuada… apenas a pedido. Falta um planeamento de limpeza destas infraestruturas e falta, sobretudo, uma avaliação à necessidade de aumento da capacidade de escoamento das águas por esta rede. Isto porque se hoje estamos a despejar baldes de água para um lavatório, e sabemos que vamos ter baldes cada vez maiores, então temos que aumentar a largura do ralo e dos canos para que a água escoe.
Temos falta de manutenção nos parques infantis. A legislação diz que os parques têm que ser visitados 1 vez por dia e ter 1 manutenção por mês. Em Braga há mais de 260 parques infantis e apenas uma equipa de manutenção para todos. Equipa essa que faz outras coisas, para além da manutenção dos parques. Qualquer pessoa consegue perceber que não é suficiente, não é verdade?
Perante as denúncias efetuadas por um cidadão à ASAE, que fiscalizou e deu um prazo ao Município para corrigir os problemas ou incorreria em coisas, o que decidiu o Município? Desmantelar os parques. E os novos que são construídos, têm manutenção contínua como prevê a lei? Não. Portanto, daqui a uns anos estarão novamente sem condições de uso.
Estes são apenas alguns dos muitos exemplos. E assim vamos, nesta Câmara Municipal que apenas reage. Que não tem, ou pelo menos não se conhece, a visão. Que não tem, claramente, manutenção. Estamos com navegação à vista e ao sabor do vento.
Uma indemnização de meio milhão na TAP, depois de todos nós injetarmos milhões na companhia, levou à demissão de um Ministro. A utilização de meio milhão para a Noite Branca, depois de se deixar a cidade chegar a este estado, não tem qualquer consequência.
E assim vamos perdendo qualidade de vida.
É preciso cuidar da cidade. É preciso reorganizar as infraestruturas e criar as condições para as alterações de comportamento necessárias e para dar resposta às inevitáveis alterações climáticas. E no meio disto tudo é preciso manutenção, para que as coisas durem e para que os sistemas funcionem.De facto toda a infraestrutura é condição necessária para a mudança de comportamentos. A mobilidade induz-se e precisa de manutenção.