No âmbito do projeto 100 Dias de Bicicleta em Portugal, o Eng. Paulo Guerra dos Santos visitou a cidade de Braga, em julho de 2010. Chegou cá de bicicleta e também deve ter sentido aquele calafrio, ao percorrer algumas das nossas vias rápidas de estimação, antes de chegar ao centro histórico da cidade:
A entrada em Braga, essa já foi um pouco mais agressiva. Avenidas com características de via rápida, sem berma e em alguns troços com pavimento degradado. Um porta de entrada muito pouco bonita, na cidade.
Aquilo que ouço diariamente dos ciclistas de Braga, podemos lê-lo de forma acutilante no relato do Eng. Guerra dos Santos:
Ao entrar-se na cidade, fica-se com a sensação que só existem vias rápidas, com 3 vias em cada sentido, túneis e viadutos, cruzamentos semaforizados e trânsito intenso. É assustador para um ciclista circular nas vias que circundam e entram na cidade, pois não existe berma ou sobrelargura, e em alguns troços o pavimento encontra-se degradado. A falta de “verde” é também notada.
A questão das vias rápidas de acesso ao centro é importante, por vários motivos. Por um lado, praticamente não existem acessos cicláveis entre as sedes de concelho em volta de Braga, o que contribui para afastar quem deseja praticar certas modalidades de cicloturismo (Exemplo #1; Exemplo #2; Exemplo #3 – ver comentários). Mas também porque é dificultado o acesso às pessoas que, morando nas zonas periféricas da cidade ou nas freguesias que se encontram fora do perímetro urbano, poderiam pretender utilizar a bicicleta como meio de transporte no seu dia a dia.
Já no que se refere à circulação no centro histórico, a opinião deste especialista em Engenharia de Estradas foi bem mais favorável:
Mas ao entrar-se no centro da cidade, parece que se entra noutro mundo. Um mundo adaptado ao peão, onde existem cada vez mais ruas cortadas ao trânsito, largos com jardins, espaçosos passeios com esplanadas, ruas inteiras de comércio onde não entram automóveis. Um paraíso para um utilizador de bicicleta, pois ainda por cima esta cidade tem inclinações planas ou suaves, tornando o pedalar num prazer sem esforço. Foi a primeira vez em Portugal que me senti, numa área urbana populosa, a pedalar com condições de conforto e segurança, longe do automóvel em zonas de trânsito proibido, ou em vias reperfiladas que promovem a tão desejada acalmia de tráfego.
E este justificado otimismo continua nas palavras seguintes:
Braga é até ao momento, das cidades que foram visitadas, a que está a criar as condições necessárias para que se possa promover a utilização da bicicleta como meio de transporte, reduzindo o tráfego e a sua velocidade no centro da cidade. A criação de parques de estacionamento subterrâneos também incentiva a redução da utilização do automóvel.
Às vezes faz falta ver como nos olham os outros para conseguirmos alcançar a real medida daquilo que somos. Braga tem esta situação singular – um potencial imenso para uma adoção do uso da bicicleta como meio de transporte, mas com alguns obstáculos que ainda impedem que isso aconteça com mais frequência e em mais segurança. Nada que não possa melhorar num futuro próximo, e por isso partilho desse otimismo.
Os artigos do Eng. Paulo Guerra dos Santos sobre a visita a Braga podem ser consultados na íntegra nestas duas páginas:
- 100diasdebicicletaemportugal.blogspot.pt/2010/07/dia-58-vieira-do-minho-povoa-de-lanhoso.html
- 100diasdebicicletaemportugal.blogspot.pt/2010/08/dia-60-guimaraes-braga.html
Resta-me agradecer ao leitor Escargot a sugestão que aqui deixou, há uns tempos, num comentário a este artigo.