A ideia é simples: que a grande parte da população consiga viver, trabalhar, aceder aos serviços essenciais e aos equipamentos de lazer num espaço que demora, aproximadamente, 15 minutos a percorrer, a pé ou de bicicleta. É o que propõe o modelo de “Cidade dos 15 minutos”. A proposta é, no entanto, arrojada. Implica uma adaptação das infraestruturas urbanas, a transformação de certas lógicas de funcionamento das cidades e a mudança de alguns hábitos de vida da população. Cidades como Paris ou Portland já estão a pôr em prática este modelo. Será que compensam os esforços que implicam esta mudança?
O conceito da “Cidade dos 15 minutos” foi criado por Carlos Moreno, urbanista e professor na Universidade de Paris. O autor defende que é o modelo de cidade que determina os fluxos de tráfego automóvel, o tempo gasto em deslocações, os níveis de poluição e a forma como se organiza a vida em comunidade. Propõe, por isso, um modelo de organização do território baseado em distâncias curtas, policêntrico e multivalente com dois grandes objetivos: melhorar a qualidade ambiental das cidades e aumentar a coesão social.
Se cada um de nós puder caminhar até ao trabalho, ao supermercado, à escola, ao banco, ao centro de saúde, e ao parque, a necessidade de usar o carro diminui, baixando o alto impacto ambiental dos transportes. Uma cidade de curtas distâncias facilita, ainda, o encontro e o convívio no espaço público, tão importante para fortalecer os laços de comunidade. Além disso, podemos usar o tempo que hoje passamos em filas de trânsito a cuidar do nosso bem-estar e a conviver com a família e amigos. Isto é, no entanto, uma miragem para muita gente. Segundo os dados do INE, relativos a 2021, a duração média de deslocação casa-trabalho em Portugal era de 20,7 minutos, e a grande parte da população (73%) usa o carro.
Este modelo é, no fundo, uma forma diferente de conceber a cidade e a nossa relação com ela. Trata-se de promover, a partir da governação, zonas urbanas que sejam autossuficientes e polivalentes. Implica aprovar políticas, implementar regras urbanísticas e dirigir investimentos que favoreçam a coexistência num mesmo espaço entre a habitação, comércio e equipamentos coletivos. Um modelo muito diferente da divisão da cidade em zonas industriais, residenciais ou comerciais.
Imagine que demora menos de 15 minutos a chegar à maior parte dos compromissos que tem na vida, sem ter de pegar no carro, parar no trânsito e procurar estacionamento. Valeria a pena, não acha?