Carta aberta a Ricardo Rio e vereadores sobre os problemas com os bicicletários junto ao Mercado Municipal

A instalação de estacionamentos adequados para bicicletas na cidade de Braga é uma das reivindicações mais antigas da Braga Ciclável. A medida era destacada como uma das mais urgentes na Proposta Para Uma Mobilidade Sustentável, que foi lançada em 2012 e entregue ao Município e às várias forças políticas, incluindo ao então vereador Ricardo Rio.

A Braga Ciclável alertou recentemente para os problemas existentes na instalação dos novos bicicletários, integrados num plano municipal de implementação de estacionamentos para bicicletas em Braga. O plano em questão previa inicialmente a instalação de 1000 suportes de estacionamento, tendo sido anunciada em 2 de outubro de 2018 a instalação das primeiras 75 estruturas, que depois foram anunciadas como sendo 78 no dia 13 de dezembro, mas que afinal, de acordo com as últimas declarações do Vereador da Mobilidade ao JN, serão apenas 28 suportes metálicos (criando um total de 56 lugares de estacionamento). No dia 10 de março, poucos dias depois do alerta da Braga Ciclável e da reportagem no JN, esses bicicletários foram retirados.

No entanto, ainda nessa mesma semana, chegaram a esta associação relatos de que haviam sido colocadas mais estruturas semelhantes às retiradas, na envolvente ao mercado municipal de Braga, que se encontra em obras. A Braga Ciclável visitou o local para avaliar a forma como estavam a ser colocados, tendo medido, tirado fotografias e voltado a enviar, no passado dia 16 de março, uma carta aberta, via email, dirigida ao Presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, ao Vereador da Gestão e Conservação do Espaço Público, João Rodrigues e ao Vereador da Mobilidade, Miguel Bandeira – uma vez que foi este último Vereador quem recentemente prestou esclarecimentos à comunicação social na sequência da carta aberta que a Braga Ciclável endereçou ao município.

Por verificarmos que há problemas na instalação destes bicicletários (os suportes metálicos não têm espaço suficiente entre si e foram colocadas em passeios, quando neste caso concreto deviam substituir lugares de estacionamento automóvel) – decidimos escrever a carta que agora aqui tornamos pública, e à qual até à presente data não recebeu qualquer resposta.

Carta aberta ao
 
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Braga, Dr. Ricardo Rio
Exmo. Senhor Vereador da Gestão e Conservação do Espaço Público, Dr. João Rodrigues
Exmo. Senhor Vereador da Mobilidade, Professor Doutor Miguel Bandeira

 
Desde o início da instalação dos bicicletários em que a estrutura utilizada é do tipo Sheffield a partir do ano 2012, temos vindo a tentar trabalhar com o município por forma a garantir uma instalação acertada dos bicicletários, quer quanto à infraestrutura, quer quanto às localizações.
 
Fazemo-lo tendo sempre como fundamento as melhores práticas da matéria e utilizando manuais como justificação para tal. Ajudamos a definir as localizações do Plano de Implementação de Estacionamentos para Bicicletas em Braga, que existe na Divisão Municipal do Urbanismo – apesar de termos deixado o alerta, na altura, de que as distâncias entre as estruturas de um bicicletário deveriam ser maiores, tal como recomendado pelos manuais de boas práticas.
 
Vimos com bons olhos o facto de terem recuado na instalação dos últimos 4 bicicletários (totalizando 8 estruturas) na Rua Dom Afonso Henriques, Largo Carlos Amarante e Rua 25 de Abril, uma vez que estes não estavam nas melhores localizações, não cumpriam as dimensões recomendadas a nível nacional e internacional, nem mantinham as dimensões das unidades já instaladas anteriormente na cidade.
 
Esperamos, agora, que os mesmos sejam devidamente instalados em localizações adequadas, com uma altura de 75 cm, uma distância entre eles de 120 cm, uma barra para cegos e que respeitem as distâncias necessárias relativamente a lancis, árvores, guias ou linhas separadoras da via.
 
Os estacionamentos para bicicletas devem sempre substituir lugares de estacionamento para automóveis, sendo a única exceção as ruas ou áreas pedonais.
 
Mas o que nos leva a escrever esta nova carta é uma nova situação com a qual nos deparamos e ficamos desencantados.
 
Foram instalados, na envolvente ao Mercado Municipal, estruturas semelhantes às que referimos na carta anterior. O facto de estes suportes serem chumbados de forma mais segura do que os anteriores é um aspeto positivo.
 

 
Figura 1: Estruturas instaladas na envolvente do Mercado Municipal
 
No entanto, estas novas estruturas também não possuem a barra inferior, imprescindível para que os cegos consigam perceber a presença de um obstáculo. O tipo de suporte apontado como sendo o mais adequado para a solução de estacionamentos de curta duração para bicicletas possui essa barra e tem sido utilizado pelo Município (ver Figura 2).

 


Figura 2: Tipo de suportes recomendados a nível nacional e internacional

 

Além disso, os suportes de metal que compõem cada um destes novos bicicletários estão demasiado próximos entre si. A distância entre os suportes não respeita as recomendações e as melhores práticas nacionais e internacionais, e não respeita as próprias normas municipais de instalação de estacionamentos para bicicletas.

 

Basta verificar que o espaçamento entre os suportes instalados no parque de estacionamento do edifício do Pópulo é bem maior (e vai ao encontro das medidas recomendadas pelas melhores práticas) que estes agora instalados na envolvente ao mercado municipal, tal como se pode perceber na Figura 3.

 


Figura 3:Estruturas instaladas no parque de estacionamento do edifício do Pópulo.

 

A localização escolhida para os bicicletários na envolvente ao mercado municipal não é a melhor. Colocar estas estruturas no passeio causa sempre problemas e vai contra as recomendações (salvo se estiverem localizados dentro de uma zona pedonal ou de coexistência – que não é o caso em análise).

 

O facto de alguns dos bicicletários se encontrarem afastados dos edifícios e estarem concentrados em aglomerados em vez de dispersos por mais pontos próximos dos vários estabelecimentos comerciais e serviços também reduz a sua utilidade prática. A colocação destes estacionamentos deveria privilegiar localizações estratégicas que permitissem promover a bicicleta como modo de transporte preferencial. A presente disposição leva a que em alguns casos o estacionamento automóvel continue a ficar mais próximo da porta dos edifícios comerciais – para além do edifício do mercado – e das residências do que o estacionamento para bicicletas, quando deveria ocorrer o contrário.

 

Nesta situação é aconselhado que se instalem os bicicletários a substituírem lugares de estacionamento automóvel, sendo que um lugar de automóvel permite 4 a 5 suportes. Isto significaria a supressão de apenas 5 lugares de estacionamento automóvel na envolvente ao mercado (que aparenta ter aumentado o número de lugares de estacionamento automóvel) para a criação de 40 lugares de estacionamento para bicicletas. A forma de o fazer também está devidamente definida nos manuais nacionais e internacionais e não é do desconhecimento do Município. Segue um exemplo disso mesmo na Figura 4.

 


Figura 4: Boas Práticas na instalação de bicicletários na via pública, de acordo com as normas nacionais e internacionais

 

O que propomos não é estranho nem desconhecido para o Município, porque é uma solução semelhante à instalada junto do GNRation (Figura 5). Os mesmos devem estar protegidos com balizadores que os separem da via de trânsito ou de outro lugar de estacionamento (tal como foi efetuado na Rua D.Pedro V).

 


Figura 5: Estacionamento no GNRation que suprimiu um único lugar de estacionamento. Os suportes deveriam estar mais afastados do lancil e protegidos com balizadores.

 

Estes suportes agora instalados na envolvente ao Mercado Municipal são semelhantes à primeira geração de suportes do tipo Sheffield que o Município colocou em 2012, mas muito mais altos e demasiado próximos uns dos outros. A partir do trabalho em conjunto, entre 2012 e 2015, conseguimos evoluir no sentido de suportes melhores e que respeitassem as normas e manuais. Foram colocados estrategicamente em locais próximos do comércio (a menos de 5 metros de lojas e a menos de 15 de shoppings, como deve acontecer), com uma barra horizontal baixa para que os cegos saibam que existe ali um obstáculo e com uma distância entre suportes de 110 cm, para garantir que ao estacionar a pessoa tenha espaço para efetuar a manobra, prender a bicicleta e sair. Esses segundos modelos foram já instalados por este executivo, pelo que se esperava agora uma normalização de suportes, que facilitasse a identificação da função prevista para estes equipamentos por parte dos potenciais utilizadores e, simultaneamente, contribuísse para a necessária homogeneidade do mobiliário urbano melhorando a imagem da cidade.

 

Surpreende-nos ver uma alteração como esta, que acaba sendo um retrocesso na qualidade das infra-estruturas instaladas e na política anteriormente assumida. Não faz sentido mudar o tipo de suporte, sem uma estratégia fundamentada e sem manter um design igual para melhor perceção da população relativamente à função dos suportes.

 

Lamentamos que a esta altura continuemos a discutir as dimensões básicas da colocação dos suportes, quando podíamos estar a discutir estratégias para aumentar o uso da bicicleta em Braga como uma das alternativas reais e desejáveis ao uso do transporte individual em Braga.

 

Continuamos, como sempre, disponíveis para discutir previamente estas e futuras situações, de modo a evitar que se repitam erros.

 

Agradecendo antecipadamente a atenção de V. Exas.,
subscrevemo-nos com os nossos melhores cumprimentos,

 

Pela Braga Ciclável
Mário Meireles (Presidente)
Victor Domingos (Vice-Presidente)

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