A inclusão de parte da linha vermelha do BRT-Braga no Campus de Gualtar constitui uma oportunidade imperdível para a UM promover uma reformulação de todo o paradigma de mobilidade. A UM, no geral, está orientada para a utilização do automóvel e pouco tem feito para promover a mobilidade em transporte coletivo ou através de modos suaves.
Com base na entrevista de Rui Vieira de Castro, reitor da UM, à RUM fica-se a saber, em linhas gerais, a contra-proposta que a UM faz em relação ao traçado para o BRT. O desenho mostra um esboço do traçado (marcado com linha tracejada), que poderá não ser exatamente assim, mas também não deve ser muito diferente.
A escolha de um trajeto para a passagem do BRT tem de ser obviamente baseada em vários critérios (custo da obra, tempo de viagem, integração com outros transportes, aspectos técnicos), Não é uma escolha fácil, razão pela qual faria sentido o reitor ter dito quais os critérios que valorizou e que alternativas foram estudadas, mas infelizmente isso não aconteceu. Esta solução reitoral só tem, na minha avaliação, uma única classificação: muito má. São vários os aspectos que concorrem para esta perceção.
- A Reitoria, em vez de promover uma discussão alargada entre os membros da academia, para perceber em que moldes o BRT os poderia beneficiar, preferiu uma solução “cozinhada” nos gabinetes do Largo do Paço. Assim, não há garantia que a solução responda a muitas das necessidades da comunidade académica. A equipa reitoral, sem hábitos de uso de transportes públicos, toma uma decisão que afeta diariamente milhares de pessoas. Um BRT deve servir aqueles que se deslocam para a UM, logo ouvir a sua opinião é obrigatório. É uma abordagem básica em engenharia ou em arquitetura, pois os utilizadores/utentes são peça importante para a captura dos requisitos de qualquer sistema.
- A passagem pela floresta que lá existe (o único espaço verdadeiramente arborizado do Campus) é, para mim, totalmente inaceitável. O Campus já tem poucas zonas verdes e a reitoria propõe “rebentar” essa floresta a meio, para permitir a passagem do BRT. Esta proposta vai ao arrepio de tudo o que temos ouvido por parte dos responsáveis máximos da UM, quanto à sustentabilidade, à preservação dos espaços verdes, à qualidade de vida dos seus membros.
- A solução reitoral preconiza um percurso que não passa no meio do Campus, mas que, ao invés, o contorna. Concluo que os atuais responsáveis da UM querem o BRT o mais longe possível. Claramente, isto irá diminuir a atratividade do BRT para os membros da UM, pois o tempo de viagem será maior. Além disso, os utentes do BRT, a exemplo do que já sucede com os dos autocarros, ficarão fora do campus no início/fim das suas viagens. Um BRT a cruzar o Campus de forma mais ou menos linear (marcado a traço contínuo), desde a rotunda junto ao Hotel Meliã até à Escola de Medicina, com uma paragem a meio da cota (junto à parte lateral da cantina), é a solução óbvia e que pode beneficiar da infraestrutura rodoviária já existente. Se os carros já lá passam não se vê razão para o BRT não passar lá também. Parece evidente que a solução reitoral é bem mais cara que a solução linear, o que a confirmar-se, mostra, mais uma vez, a ausência de critérios mensuráveis.
Em conclusão, a proposta que está em cima da mesa é, na minha humilde opinião, frágil, péssima e não está baseada em critérios objetivos. Não valoriza devidamente os utentes do transporte coletivo e não procura saber se está alinhada com os seus interesses.
Espero que o Conselho Geral não aprove esta solução. Confio que os membros deste órgão tenham a capacidade e o bom-senso para avaliar quão má é esta solução e que se possa recomeçar o processo. Se assim não for, perde-se aqui uma oportunidade para “fazer campus” e, por consequência, “fazer cidade”.